sábado, 15 de janeiro de 2011

MORANDO NO VAGO
"Suave é viver só"
(Fernando Pessoa – In: Ficções do Interlúdio)
Para meu amado Rubens Eduardo Ferreira Frias

me consolo ao pensar em tua face serena
tenho memória em minhas mãos em asas
tudo é pensamento nos relâmpagos volúteis
assim faço minha vida: uma flor cortada ao meio
nasceu nascido o calo na voz
consulto a barata que samba no consultório
se aguentarei uma anestesia na língua
caros leitores, não se preocupem
aguentei a anestesia e vomitei por quinze bêbados
por quatro dias minha língua tinha gosto de isopor
e gorda como uma pomba.
somos apenas um cisco, diz Edna
acho que sou uma poeira que moro no Vago
enquanto tiver os brilhos do sol, parecerei grande.
nada me atinge
até o amor é apenas uma sombra.
eu queria mesmo ter uma boca vermelha de vinho
para ir ao rio das coisas.
sigo
minha antiga vida.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O TEMPO DA NOITE
"A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão."
(Mario Quintana)
Para meu querido sobrinho Pedro Ben

Todos os homens deveriam esperar que eu minta.
Não preciso de mensageiros para meus fracassos
Velha amiga vai escrevendo que eu vou dormindo
Venha assim mesmo: até como se fosse inimiga
Mandarei pintar uma caneca com teu nome para os cafés
/que apronto.
No dia em que a noite desaparecer eu vou me divertir
Teve um tempo em que eu morria todas as noites
Faço RPG olhando para um esqueleto
Eu choro porque meu amigo não ama minha amiga
Eles seriam belos correndo na chuva.
Acho ele um filho da putíssima e lhes jogaria uma
/nuvem de pedras.
Eu o colocaria num navio que parte para longe.
Ele quer uma luz melhor que a do sol.
Eu me mexo, faço coisas, deixo rastros e meu coração
/cortado, colo com polar.
Minha amiga não chia mas em taças detalhadas
/o veneno está contido
Peço a ela que ame outro sol que este.
Sem ilusão
A vida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

RALANDO A LÍNGUA
> “Os poetas místicos são filósofos doentes,
> E os filósofos são homens doidos”
> (Fernando Pessoa. In: Ficções do interlúdio )
> Para meu irmão Raimundo
> Venceslau dos Santos
>
>
> O que sabem as flores e as árvores a meu respeito?
> Gritei: valei-me Santa Bárbara na hora do
> aguaceiro.
> Sonhei com um vago mistério, depois de ter visto o filme
> “Amor
> À morte, de Allan Resnais. O filme quase me
> enlouquece.
> Quem me dera morar naquela aldeia!
> Queridos leitores, nada do que digo e escrevo, eu
> vivo.
> Um garoto na rua me disse: “em vez de chorar
> minha mãe,
> A polícia chora as deles primeiro”. Foi a mais
> estranha de todas as estranhezas
> Que ouvi um dia.
> Olhando para seis relógios passei a noite
> toda.
> Pulo do pensamento para as palavras.
> Meu vizinho colocou uma placa de natal em sua porta
> E eu corro pelo corredor e saltito fazendo ginástica
> contando
> /as letras da placa. Com uma dor no corpo penso
> que tenho doenças
> /de novas ideias. Tresvariando vi a figura
> dele.
> Quero qualquer coisa para me acordar, para não
> ter que me deixar
> /de novo. Um cego para na calçada e me olha.
> O que é melhor, a tua alegria ou a minha?
>
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