quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

iris murdoch

Iris Murdoch como ensaísta e as «intimações dispersas do Bem»

by alfredomonte
A soberania do bemIris_Murdoch_1832272i
“Isso pode parecer uma reflexão bastante óbvia, mas a filosofia frequentemente é um meio de encontrar o contexto apropriado para dizer o óbvio.”
“Poderíamos dizer que a verdadeira moralidade é um tipo de misticismo não esotérico, tendo sua fonte em um amor austero e sem consolo pelo Bem.”(de A Soberania do Bem)
“David me encarou com os olhos arregalados, injetados.
__ E qual acha que será a consequência disso? Não, não. É melhor fazer a coisa errada pelas razões certas do que fazer a coisa certa  pelas razões erradas. Ah, o senhor não compreende...
    Mas eu compreendia muito bem. Podia ter ficado desesperado com a grande confusão do destino humano: aquelas insinuações semientendidas de certo e errado que nos levam, por estradas iluminadas pela luz crepuscular, para um ponto do qual não há retorno...” (de A moça italiana)
(uma versão da resenha abaixo foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em 11 de fevereiro de 2014)
Há meio-século, em A moça italiana (1964), um de melhores romances de Iris Murdoch (1919-1999), o protagonista retornava contrafeito, devido à morte da mãe tirânica, para a casa onde fora criado e cuidado por uma sucessão de preceptoras italianas (as quais se confundiam em sua mente). Ali encontrava o resto da família (além da última na sequência de “moças italianas”) mergulhado num inferno de desatinos sexuais e crises passionais. Como o único que conseguira “escapar” do círculo, todos lhe pedem ajuda[1], mas falha de forma lamentável, fazendo um papel ridículo, ofuscado pelas aparências e intrigas nos bastidores. Enquanto isso, a última das preceptoras, pouco mais velha que ele, “figura de fundo”, espera que seu antigo discípulo consiga abrir os olhos e enxergar a realidade. E enxergá-la...
Simplifiquei bastante essa estranha e edipiana fábula[2], porém meu propósito era salientar uma ideia-chave em A Soberania do Bem [The Sovereignty of Good, 1971, que comento na tradução de Julián Fuks], reunião de três ensaios que a grande escritora irlandesa[3] publicara em periódicos nos anos 1960, paralelamente a uma profícua produção romanesca, e só agora publicada no Brasil: a de que o Amor (numa acepção fortemente ancorada em Platão) é a maneira correta de abrir os olhos  e escapar dos véus do autoengano.
Apesar da densidade das suas reflexões e de referências a pensadores anglo-saxões que mal conhecemos[4], a leitura nada tem de árdua, pois Iris Murdoch se vale daquela forma eficaz que é o ensaio oriundo de uma palestra ou conferência (lecture). Ou seja, já no nascedouro há a exigência da comunicabilidade, da limpidez da apresentação, com aqueles recursos fáticos que garantem o ritmo do encadeamento reflexivo: “Permitam-me agora tentar explicar...”; “Vamos pisando com cuidado aqui...”; “Podemos neste ponto parar e considerar o quadro da personalidade humana, da alma, que vem emergindo...” São exemplos que mostram o interlocutor sempre presente no horizonte do discurso. Nada daqueles textos cifrados e autistas à Deleuze & Althusser, que entraram na moda justamente naquela época.
círculo do livrothe-italian-girl
O primeiro ensaio, A Ideia de Perfeição (1964)[5], questiona concepções da vontade e da liberdade que ela engloba como visão existencialista-behaviorista, como se nos movimentássemos numa ausência de fundo moral, únicos responsáveis por nossas escolhas[6]. Contra esse fuliginoso mundo psíquico, ela propõe uma moralidade da atenção[7], uma tarefa infinita da consciência quanto à percepção dos outros e dos fatos exteriores. A “liberdade”, tão importante na filosofia moderna, não seria um “salto súbito da vontade isolada para dentro e para fora de uma  lógica complexa e impessoal”, pois é sobretudo “uma função da tentativa progressiva de ver um objeto específico com clareza[8]. Daí a visão do Amor como conhecimento do indivíduo, um olhar que enxerga de fato e não apenas projeta fantasias. Para tanto, precisamos recuperar o papel de agentes morais ativos. A imaginação moral permite que almejemos o Bem, o ideal de perfeição.
Em Sobre Deus e o Bem (1969; infelizmente na tradução se perde o jogo verbal do título original On God and Good), ela lamenta o vazio deixado pelo recuo da filosofia moral com relação a outras disciplinas (psicanálise, teoria social).  Apertando ainda mais o nó da reflexão anterior, surge a espinhosa questão: “Como é um homem bom? Como podemos nos tornar moralmente melhores?” Na falta da perspectiva religiosa, como cultivar tal objetivo, sem sermos tapeados?:
“A noção de que ´tudo de alguma forma tem que fazer sentido´ protege do desespero: a dificuldade está em como aceitar essa noção confortante de um modo que não seja falso. No instante em que qualquer ideia se torno um consolo, a tendência a falsificá-la ganha força...”
   Daí a sua dedicação em explorar (com a espinhosa dificuldade de conceitos tão deturpados ou desgastados[9]) os caminhos para a “excelência moral” e a “transcendência”: “O Bem está sempre além, é desse além que ele exercita sua autoridade”[10]. Como parecem questões recônditas para os voláteis tempos atuais, e como no entanto elas são cada vez mais urgentes! Em todo caso, esse segundo ensaio me parece o coração do livro.
No último, A Soberania do Bem Sobre Outros Conceitos (1967),  ela retoma mais explicitamente Platão (o seu célebre mito da caverna ganha toda uma fisionomia moral) e procura definir seu conceito de Bem e suas “intimações dispersas”, se estivermos dispostos a olhar para “fora do eu”.
Para quem não é atraído (antes o contrário) pela religião, para quem despreza as táticas de melhora instantânea da autoajuda, mas tenta se pautar (e se angustia com constantes tropeços) por um procedimento que a partir de agora não terá mais medo de chamar de “moral”, A Soberania do Bem é uma bússola e tanto no mar da desorientação contemporânea: “O Bem não tem nada a ver com propósito; na verdade, ele exclui a ideia de propósito. Tudo é vaidade é o início e o fim da ética. O único modo genuíno de ser bom é ser bom ´para nada´ no meio de um cenário em que cada coisa natural, incluindo nossa mente, está sujeita à mudança, isto é, à necessidade”.
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[1] “Também estava claro, agora, que  eu não podia ir embora. Era um prisioneiro da situação. Antes, naquele mesmo dia, vagando num estado de lassidão sem propósito, ficara fortemente tentado a partir (...) Não havia nada que pudesse fazer por aquela gente. Entretanto, por ardente que fosse o meu desejo de partir, e embora achasse que devia voltar ao meu mundo simples antes que alguma coisa pior me acontecesse, sabia que não podia. Era meu dever ficar: aquela palavra desagradável me prendia ali. Mas não era só isso. Percebi, alarmado, que queria ficar, mesmo. Estava me tornando uma peça da máquina.” (utilizo, nas citações de A moça italiana, a tradução de Luiz Carlos do Nascimento Silva, retiradas da edição do Círculo do Livro, s/d).
[3]  Ela também lecionou filosofia em Oxford por anos a fio e foi aluna de ninguém mais ninguém menos do que Wittgenstein.
Acho que todos se lembram do filme Iris (2001), dirigido por Richard Eyre, que retrata sua vida (especialmente os terríveis anos finais), com uma magnífica Judi Dench e a não menos gloriosa Kate Winslet vivendo a jovem Iris Murdoch.  O admirável Jim Broadbent,  como John Bayley, o marido, ganhou o Oscar como coadjuvante.
[4] Hampshire, Moore, Hare, Ryle, Ayer, Austin, etc...
[5] E segundo a autora, no Prefácio, baseado numa palestra de 1962.
[6] “A imagem do homem que esbocei anteriormente me parece tanto estranha quanto implausível: tenho objeções empíricas simples (não acho que as pessoas sejam necessária ou essencialmente assim), tenho objeções filosóficas (não acho os argumentos convincentes), e tenho objeções morais (não acham que as pessoas tenham que se ver dessa maneira).”
[7] Além de Platão, há o peso do pensamento de Simone Weil.
[8] “Isso não implica que não sejamos livres, absolutamente. Mas implica que o exercício de nossa liberdade é algo que se dá aos poucos e de modo fragmentário o tempo inteiro, e não um salto grandioso e desimpedido em momentos importantes. A vida moral, nessa visão, é algo que se dá continuamente, não algo que se desliga entre as ocorrências das escolhas morais explícitas. O que acontece entre essas escolhas é, na verdade, o que há de mais crucial...”
[9] “A ideia de contemplação é difícil de entender e manter em um mundo cada vez mais desprovido de sacramentos e rituais, e no qual a filosofia tem (em muitos aspectos corretamente) destruído a velha concepção substancial do Eu. Um sacramento oferece um lugar externo e visível para um ato interno e invisível do espírito. Talvez seja necessária também uma analogia do conceito de sacramento, embora isso deva ser tratado com grande cautela. A ética behaviorista nega a importância, pois questiona a identidade de qualquer coisa anterior ou separada da ação que ocorra decisivamente ´dentro da mente´. A apreensão da beleza, na arte ou na natureza, muitas vezes parece de fato uma experiência espiritual localizada no tempo que é fonte de energia positiva. Não é fácil, contudo, estender a ideia dessa influente experiências a ocasiões de pensamento sobre pessoas ou ações, uma vez que a clareza de pensamento e a pureza da atenção se tornam mais difíceis e mais ambíguas quando o objeto de atenção é algo moral...”
 [10] “O principal inimigo da excelência  na moralidade (e também na arte) é a fantasia pessoal; o tecido de desejos e sonhos autoenaltecedores e confortantes que nos impedem de ver o que há fora de nós. Rilke disse sobre Cézanne que ele não pintava o gostei, ele pintava o aí está. Isso não é fácil e exige disciplina, na arte ou na moral.”
murdoch,iris
moça italiana
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domingo, 9 de fevereiro de 2014

ciganas e 1 cigano

ciganas

O Porco 4 - Taciana



O MELHOR DO NADA SOBRE TUDO ( ROMANCE DE ROSA KAPILA -17/8/2012
O porco

De acordo com o Abade de Baçal (que um dia será apaixonado por Taciana), há na província de Trás-os-Montes umas esculturas zoomorfas em pedra, granítica, representado quadrúpede, conhecidos pelo nome de Porcos ou Porcas, segundo indica a marcação sexual, nitidamente definida em muitos exemplares, se bem que noutros é incognoscível.
Idênticas esculturas se encontram nas vizinhas províncias espanholas de Salamanca e Zamora, que etnograficamente, em parte,   tem muita parecência tem com aquelas.
Em Portugal, fora da região transmontana, são desconhecidos.  E
Estes monumentos,  segundo Martins Sarmento dá notícia de duas cabeças de porcos encontradas na exploração que fez das ruínas de Sabrosa. Encontra-se a sua fotogravura nas Religiões da Lusitânia, vol. 3, p.30.

Taciana aporta  em Bragança e quer saber dessas histórias para ver se arma uns planos de trabalhar com elas e tirar proveito.Parece  que em
Bragança é onde tem  mais: são já conhecidas dezesseis enquanto que no de Vila Real se conhece a Porca de Murça e  duas inéditas que   conheceremos na sequência . Na província de Zamora conhecem-se duas:  uma delas é de San Vitero,  e na de Salamanca   tem  dez e mais uma desaparecida. Quer dizer: só o distrito de Bragança, à sua parte, conta mais esculturas deste tipo do que o resto da província transmontana e as duas vizinhas espanhola de Zamora e Salamanca.Taciana decide ir às bibliotecas pesquisar  essa história de “tanto porco e porca”. Encontra em seu caminho  na biblioteca uma jovem bem apessoada e pergunta:
“você sabe me dizer se existem pessoas  que fazem a limpeza  das estátuas de porcos e porcas?”
“Não sei te dizer mas posso te dar o endereço de um museu que talvez te informe melhor”. Agradece e vai conversar com a bibliotecária e com esta adquire mais informações.
A bibliotecária explica: “em algumas partes aparecem estas esculturas ligadas a pelourinhos, como a Porca da Vila de Bragança, que serve de suporte ao desta cidade, e a da Torre de D. Chama, mas nenhuma relação tem uma coisa com outra: os pelourinhos são medievais e posteriores e os quadrúpedes em questão remontam à pré-história, contando, portanto, milênios de antiguidade. Tem grande importância como documentação, primária talvez, da arte ibérica, além do significado étnico.
Aos porcos ou Berrões transmontanos correspondem em algumas províncias ibéricas outras esculturas zoomorfas, representando bois, cavalos, gatos,
e leões. Na Espanha dão o nome genérico de Toros de Guisando, tipificados nos existentes em Ávila. oran, acima citado, menciona, além dos porcos, mais dois touros existentes na província de Salamanca e seis desaparecidos por culpa de um idiota iconoclasta, governador de Salamanca, que os mandou despedaçar devido a supô-los símbolos ignominiosos colocados por Carlos I, nas povoações insurgidas contra ele durante a Guerra das Comunidades.”
“Será que precisam de funcionários nessas cidades para dar banho aos bichos e deixá-los brilhando que nem ouro?”   - pergunta Taciana. “Creio que sim pois eles não veem água e sabão há séculos”.  “Dizem que   o  porco teve grande prestígio na antiguidade: entre os doze trabalhos de Hércules conta-se o de haver segurado na corrida e morto um javali que assolava o país de Erimanto; era insígnia militar dos soldados espanhóis de cavalaria, e ainda algumas moedas de Clúnia do tempo dos romanos tem por divisa um javali; nos sacrifícios a Ceres imolava-se-lhe um porco, e «à Deusa romana Tellus, a terra, se sacrificava uma porca, a porca praecidanea».
Torre de Dona Chama: Na vila deste nome, concelho de Mirandela, sitio chamado Largo do Pelourinho, há em granito uma escultura representando um suíno, a que o povo, dá o nome de Berroa e Ursa.. Tem de comprimento 1,60m de altura 0,92 e de largura 0,36.
Não há dúvida de que os nossos antepassados ainda no século VI, embora cristãos, adoravam os animais: ratos, traças, formigas e outros, segundo usanças que lhes vinham do paganismo (1499); ainda acreditavam, como se vê da obra do bispo bracarense São Martinho, abaixo citada, que quem estava farto e contente no principio do ano, tinha a mesma satisfação garantida para todo ele, de onde as festas celebradas nesta época, às quais nos referimos noutra parte; nas vozes e cantos das aves (1500); em adivinhações e agouros; na eficácia das palavras mágicas e versos, nos malefícios e encantamentos feitos com ervas e fórmulas de feitiçarias; ainda enfeitavam as mesas, deitavam frutos e vinho no lume, pão na fonte, evitavam certos dias como nefastos (hoje, terças e sextas-feiras); ainda prestavam culto e certos penedos, árvores, fontes e encruzilhadas, de caminhos, acendendo lá velas. Ainda conservavam várias superstições gentílicas que o santo aponta e, coisa curiosa, ainda hoje achamos abundantes restos dessas superstições entre o nosso povo, que mantém intacta a teologia pagã a par da cristã, apesar da guerra que esta lhe move vai em vinte séculos. O cristianismo não acabará jamais, enquanto houver homens, como dizemos nós, os católicos, mas é necessário confessar que o paganismo e as outras religiões participam da mesma imortalidade.Taciana saiu da biblioteca direto para a mansão do  Abade de Baçal. Foi apresentada pelos guardas ao Barão. “O que traz aqui uma jovem tão bela e bem disposta?” – pergunta o Barão.
“Meu senhor passo por dificuldades financeiras e tive uma ideia de ser limpadora das estátuas das cidades. As mesmas são belos monumentos mas ninguém os limpa. Isso não é bom para o turismo.”
“Equanto cobraria por esse serviço?”
“O que merecer ganhar.”
“Estás empregada. Podes começar amanhã. Os lacaios te passarão  os ingredientes para a limpeza.”
“Obrigada meu senhor”
“Já tens lugar pra morar?”
“Ainda não meu senhor.”
“Pois os lacaios te arranjarão um belo lugar, como merece sua formosura.”
“Bom dia senhor e fique com as aves.”

Até aqui 8 de dez. de 2011.




 A veneração e adoração dos animais, plantas e fontes começou naturalmente por ser um acto de reconhecimento do homem aos benefícios recebidos desses seres. É natural que o homem estimasse como santa a fonte que nas regiões áridas lhe matava a sede ou curava as doenças; a planta que lhe fornecia alimentos ou recursos terapêuticos; o animal que por razões especiais, se lhe tornava prestadio, etc. Daqui ao culto, à adoração, a reconhecer predicados de nume tutelar, vai um passo, principalmente em espíritos materializados. Os mais elevados em concepção espiritual para lá caminham, vendo nestas criaturas a providência do Criador.




2. ALHEIRA - ESPECIALIDADE TRADICIONAL GARANTIDA

Enchido tradicional fumado, cujos principais ingredientes são a carne e gordura de porco, a carne de aves (galinha e/ou peru) e pão de trigo, o azeite e a banha, condimentados com sal, alho e colorau doce e/ou picante. Podem ainda ser usados como ingredientes a carne de animais de caça, a carne de vaca e o salpicão e/ou o presunto envelhecidos.
É um enchido com formato de ferradura, cilíndrico, sendo o interior constituído por uma pasta fina na qual se apercebem pedaços de carne desfiadas e cujo invólucro é constituído por tripa natural, de vaca ou de porco.
O uso da menção Produto Específico obriga a que o enchido seja produzida de acordo com as regras estipuladas no caderno de especificações, o qual inclui, designadamente, o processo de produção.

Comercialmente este enchido pode apresentar-se acondicionado em embalagens de cartão, de plástico ou de PVC, ou de outros materiais próprios para entrar em contacto com géneros alimentícios, em atmosfera normal, controlada ou em vácuo. A rotulagem deve cumprir os requisitos da legislação em vigor, mencionando também a menção Produto Específico. A Alheira de Mirandela deve ostentar a marca de certificação aposta pela respectiva entidade certificadora.
História
Foi inventado pelos judeus como artimanha para escaparem às malhas da Inquisição.
Como a sua religião os impedia de comer carne de porco, eram facilmente identificáveis pelos seus perseguidores pelo facto de não fazerem nem fumarem os habituais enchidos de porco.
Assim, substituíram a carne de porco por uma imensa variedade de carnes, que incluíam vitela, coelho, peru, pato galinha e por vezes perdiz, envolvidos por uma massa de pão que lhes conferia consistência.

A receita acabaria por se popularizar entre os cristãos, mas estes juntavam-lhe a omnipresente carne de porco. Embora a ligação da alheira com os cristãos novos seja uma romântica ideia popular, não há factos completamente concludentes e não são grandes as probabilidades de se lhes poder atribuir a sua invenção. O ciclo de produção de fumeiros caseiros era, e é, directamente ligado aos animais que se criam para consumo próprio.
Embora a ligação da alheira com os cristãos novos seja uma romântica ideia popular, não há factos completamente concludentes e não são grandes as probabilidades de se lhes poder atribuir a sua invenção. O ciclo de produção de fumeiros caseiros era, e é, directamente ligado aos animais que se criam para consumo próprio.
Hoje, as mais afamadas são as de Mirandela, mas por toda a Beira Alta e Trás-os-Montes se fazem alheiras artesanais de excelente qualidade.
Geralmente são fritas em azeite e servidas com legumes cozidos. Mas também podem ser estufadas, depois de envolvidas em couve lombarda.

A Associação Comercial e Industrial de Mirandela e a Câmara Municipal de Mirandela organizam desde 1998 uma Feira da Alheira no mês de Março como forma de atracção dos forasteiros que vão em direcção ou vêm da tradicional Amendoeira em Flor.

O Aviso n.º 2259/2006 (2.ª série), de 21 de Fevereiro de 2006, diz respeito ao pedido de registo de indicação geográfica e diz o seguinte:

I - De acordo com o disposto no n.º 2 do anexo I do Despacho Normativo n.º 47/97, de 11 de Agosto, faço público que a Associação Comercial e Industrial de Mirandela, com sede na Praça do Mercado, Porta Central, 5370 Mirandela, requereu o registo de Mirandela como indicação geográfica para alheira. Do pedido de registo e do caderno de especificações que o suporta constam as seguintes definições e restrições.

II - Entende-se por alheira de Mirandela o enchido tradicional fumado cujos principais ingredientes são a carne e a gordura de porco da raça Bísara ou produto de cruzamento desta raça com as raças Landrace, Large White, Duroc e Pietrain (desde que 50% de sangue Bísaro), a carne de aves (galinha e ou peru), o pão de trigo, o azeite de Trás-os-Montes e a banha, condimentados com sal, alho e colorau doce e ou picante. Podem ainda ser usados como ingredientes a carne de animais de caça, a carne de vaca e o salpicão e ou o presunto envelhecidos.


Características físicas:

Forma e aspecto exterior - enchido cilíndrico em forma de ferradura com cerca de 20 cm a 25 cm de comprimento e de cor castanho-amarelada. A tripa, sem rupturas, apresenta-se aderente à massa; as duas extremidades são ligadas por um fio de algodão;

É exteriormente perceptível a existência de pedaços de carne, face à cor e textura que apresentam;

Diâmetro - 2 cm a 3 cm;
Peso aproximado - entre 150 g e 200 g;
Cor e aspecto ao corte - pasta grumosa, onde se apercebem pequenos pedaços de carne desfiada;
Cor interior - castanho-amarelada, de tonalidade não homogénea.


Características químicas:

Proteína: superior a 14%;
Humidade: inferior a 50%;
Gordura: inferior a 18%.

Características sensoriais ou organolépticas - sabor e aroma: sabor agradável, levemente fumado, muito característico, onde se destaca a condimentação do alho e do azeite. Aroma levemente a fumado agradável.

As alheiras de Mirandela não são consumidas tal-qual, devendo ser grelhadas ou assadas, de preferência, em "lume de carvão", antes de serem consumidas.

Apresentação comercial - a alheira de Mirandela só pode ser comercializada acondicionada em embalagens de cartão, de plástico de PVC ou de outros materiais próprios para entrar em contacto com géneros alimentícios, em atmosfera normal, controlada ou em vácuo. Sempre que haja lugar a pré-embalagem, esta é efectuada de modo a conservar as características hígio-sanitárias e sensoriais durante o período normal de armazenamento e venda.

Para além das menções presentes na legislação geral sobre a rotulagem de géneros alimentícios e das constantes na legislação sanitária, devem constar sempre, na rotulagem da alheira de Mirandela IGP, as seguintes menções:

Alheira de Mirandela - IGP;

Nome, firma ou denominação social e morada do produtor;

Marca de certificação;

Logótipo comunitário a partir da decisão comunitária;

Logótipo da alheira de Mirandela.

III - Delimitação das áreas geográficas de produção da matéria-prima, de transformação e acondicionamento.

Tendo em conta que a produção da alheira de Mirandela requer carne de porco da raça Bísara (ou cruzamento com esta raça, desde um dos progenitores seja desta raça), devido a esta possuir uma maior quantidade de gordura intramuscular, com um bom equilíbrio na relação ácidos gordos insaturados-saturados e predominância do mono-insaturado oleico, revelando-se um elevado atributo sensorial e tecnológico, que se traduz numa excelente aptidão para a transformação de produtos de alta qualidade, a área geográfica de produção de matéria-prima fica assim também naturalmente delimitada à área de exploração do porco de raça Bísara, designadamente os concelhos de Alijó, Boticas, Chaves, Mesão Frio, Mondim de Basto, Montalegre, Murça, Régua, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços e Vila Real, do distrito de Vila Real, e os concelhos de Alfândega da Fé, Bragança, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vila Flor, Vimioso e Vinhais, do distrito de Bragança.

Tendo em conta as condições climáticas requeridas para a transformação da alheira de Mirandela, nomeadamente as necessárias à realização do processo de fumagem, no qual é utilizada lenha típica da região (carvalho e oliveira), o saber-fazer das populações baseado em métodos locais, leais e constantes, o uso do pão regional de trigo, cujo segredo de fabrico permaneceu inalterado ao longo de múltiplas gerações de padeiros, a área geográfica de transformação e acondicionamento está circunscrita ao concelho de Mirandela.

As demais condições de produção e de rastreabilidade, as exigências de controlo, os factores históricos, edafo-climáticos, etc., constam do respectivo caderno de especificações.

IV - Qualquer pessoa singular ou colectiva que alegue um interesse económico legítimo pode consultar o pedido de registo, dirigindo-se, durante o horário normal de expediente, a qualquer dos seguintes serviços:

Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica, Divisão de Promoção de Produtos de Qualidade, na Avenida dos Defensores de Chaves, 6, 1049-063 Lisboa;

Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes, Direcção de Serviços de Desenvolvimento Rural, Centro do Valongo, Quinta do Valongo, 5370 Mirandela;

Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, Direcção de Serviços de Desenvolvimento Rural, Estrada Exterior da Circunvalação, 11 846, Senhora da Hora, 4450 Matosinhos;

Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral, Biblioteca, Avenida de Fernão de Magalhães, 465, 3.º, 3000 Coimbra;

Direcção Regional de Agricultura da Beira Interior, Biblioteca, Rua de Amato Lusitano, 13, 6000 Castelo Branco;

Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, Rua de Joaquim Pedro Monteiro, 8, 2600 Vila Franca de Xira;

Direcção Regional de Agricultura do Alentejo, Divisão de Documentação e Informação, Quinta da Malagueira, apartado 83, 7001 Évora;

Direcção Regional de Agricultura do Algarve, Direcção de Serviços de Desenvolvimento Rural, Braciais, Patacão, 8000 Faro;

IAMA, Divisão de Apoio Técnico, Rua do Passal, 150, 9500 Ponta Delgada, Açores;

Direcção de Serviços de Agro-Indústrias e Comércio Agrícola, Edifício Golden, Avenida de Arriaga, 21-A, 9000 Funchal, Madeira.

V - As declarações de oposição, devidamente fundamentadas, devem dar entrada em qualquer dos serviços referidos no n.º II, no prazo de 30 dias a contar da data de publicação deste aviso no Diário da República.

26 de Janeiro de 2006. - O Presidente, C. Mattamouros Resende.




3. A MATANÇA DO PORCO

A matança do porco, embora sem a importância que teve outrora, continua a realizar-se no concelho de Mirandela, a qual obedece a um certo ritual. Realiza-se sobretudo nos meses de Dezembro e Janeiro quando o frio cria condições propícias para tal.

A Junta de Freguesia do Romeu organiza todos os anos no mês de Janeiro uma matança do porco que pretende ser um momento de convívio entre todos os habitantes da aldeia e entre estes e os forasteiros convidados. A única diferença é que os porcos aparecem já mortos e esquartejados ao local do repasto.

No site http://www.braganca.net/, encontramos uma descrição interessante da matança do porco na aldeia de Barroso, uma tradição secular no distrito de Bragança e noutras regiões de Portugal.

«Foi numa manhã fria de Dezembro que assisti à tradicional matança do porco na casa da minha avó Maria...

Muito cedo chegou o meu tio Carlos e a minha tia Ana que iriam ajudar nas tarefas, que pelo que me disseram, seriam muitas. Chegou também o sr. Francisco com uma enorme faca debaixo do braço. Tinha fama de matar os porcos rapidamente e era ele que matava quase todos os porcos da aldeia. Por fim chegaram o tio Chico e dois vizinhos.

Entraram e comeram figos, pão e azeitonas que acompanharam com um copo de aguardente para se aquecerem um pouco (como se não bastasse a enorme fogueira de lenha de carrasco que a minha avó já tinha acendido).

Depois saíram, foram buscar o porco à loja encaminharam-no para a porta da curralada onde já estava um agrade e alguns feixes de palha.

Nesse momento, chegou a minha mãe com uma bacia com um pouco de pão e vinagre espalhados no fundo. Explicaram-me que o tacho serviria para aparar o sangue e o pão e o vinagre para impedirem que o sangue tralhasse (coagulasse). Agarraram o porco e colocaram-no sobre o agrade. O senhor Francisco pôs em prática toda a sua habilidade e, de uma vez só, espetou a sua enorme faca no pescoço do porco provocando uma diminuição na força com que o infeliz se debatia e um grande arrepio em mim. A minha mãe aparava o sangue na bacia dando-lhe volta com um ritmo compassado à medida que ia acrescentando alguma água.

Quando o porco parou de se debater, pegaram fogo à palha de centeio. Com calma, foram chamuscando o pelo do porco e depois a sua pele, esfregando-a com sabão e com cortiça e raspando-a com facas. Aqueceram as unhas e arrancaram-nas. Depois  de bem lavado, viraram-no de barriga para cima e começaram a abri-lo.

A minha tia Ana chegou para levar as asinhas do coração ("senão o fumeiro voava"), as pontas das costelas, o fígado e barbada que iria estufar.

Depois de retiradas as tripas a minha mãe tirou-lhes alguma gordura, enquanto estavam quentes, que seriam fervidas numa panela (rojões).

Os homens penduraram o porco usando uma estaca com uma gancha, que fizeram passar pelo cu do porco e se prendia no queixo do mesmo. A estaca foi encostada a uma esquina, ficando o porco ao alto uma vez que não havia uma trave para o pendurar. Depois entravaram e comeram o estufado de carne e o sangue cozido (cortado em cubos com alho, azeite, vinagre e pimento doce), enquanto se preparava o almoço.

O almoço consistiu num prato de arroz de couve branca, acompanhado com salpicão do ano anterior feito com a tripa do cu e ovo cortados às rodelas, ambos colocados por cima do arroz. Sopas feitas com pão migado e amolecidas com o caldo dos potes de ferro que fervem na lareira. Regadas com azeite a ferver que fazia um som característico ao cair sobre o pão já húmido (sopas do chize), com sangue cozido esfarelado por cima.

Depois do almoço a minha mãe e a minha tia foram lavar as tripas para o ribeiro na Veiga. Utilizavam uma verga de olmo para virar a tripa (pau de virar tripas) permitindo a lavagem do interior. A água estava muito fria e o cheiro também não era nada agradável.

Aproveitei o tempo e perguntei-lhes quais seriam as fases seguintes na conservação da carne do porco. As alheiras só se faziam depois de desmanchar (desfazer) o porco (normalmente no dia seguinte). Também eram separadas as carnes (para salpicões, bochas, linguiças e bulhos). A maior parte da carne seria conservada em maceiras com sal.

Perguntei também qual seria o processo para fazer os salpicões que eu tanto gostava de comer na casa da minha avó. Primeiro preparava-se um alguidar com suça (água, sal, alho, louro, casca de laranja, um copo de vinho (ou mais)). As carnes ficavam na suça um dia ou dois. No acto de encher as tripas juntava-se algum pimento às carnes.

Cheguei à conclusão de que o dia da matança do porco era um dia cheio de trabalho, mas também um dia cheio de alegria e alguma festa. Percebi que todas as fases se desenvolviam com calma como  num ritual. Percebi também que o porco, nas diferentes formas em que é conservado, ocupa um lugar muito importante na alimentação ao longo de todo o ano».

Cristina Cerqueira, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, apresentou no IV Congresso Português de Sociologia uma intervenção sobre a matança do porco. Diz ela que a matança do porco, além do seu contributo fundamental para as economias doméstica e aldeã tradicionais, desempenha uma função social relevante na nova configuração social das comunidades rurais a partir da década de setenta. A tradição da matança, defende ela, só se consolidou a partir da década de sessenta com a emigração. Só a partir de então é que toda a gente começou a matar o seu porco. Antigamente toda a gente era pobre e muitos nem tinham porco para matar. Os ricos é que lhes davam alguns bocadinhos de porco para que fossem comendo algum também.

O Abade de Baçal relata que em Trás-os-Montes, o facto de não ter porco para matar era um bom indicador do estatuto social de “pobre”: «É corrente para indicar a precária condição de uma família o dizer-se: - “é tão pobre que nem matou!”, acrescentando que o porco é então a “caixa económica” dos transmontanos.

Entre os finais do século XIX e o início dos anos sessenta, a festa da matança “tradicional” é uma pequena festa familiar ou uma refeição de trabalho festiva ou um cerimonial conjugando estes dois tipos de festa. Esta refeição é sobretudo constituída de partes do porco mais perecíveis que não serão salgadas nem fumadas (sangue, fígado e às vez pulmão) e carne de porco velha. Essa escassez é ironicamente referida pelo provérbio: “Ossos da suão, barba untada, barriga em vão”.

A festa da matança ou ceia da matança é um fenómeno recente, distinguindo-se as pequenas, médias e grandes, consoante o poder económico dos proprietários. Nas pequenas, além dos membros da casa, estão presentes convidados da esfera aldeã: familiares residentes na aldeia, vizinhos e amigos, ou seja, entre 10 a 20 pessoas. Nas médias participam convidados de outras aldeias assim como parentes não residentes na aldeia (30 a 40 pessoas). Nas grandes festas os convites estendem-se à esfera do concelho (40 a 100 pessoas).

As pequenas e médias matanças têm como função contribuir para o estreitamento do pequeno núcleo produtivo, reafirmando os laços sociais no seio da sua esfera habitual de entreajuda. As grandes são uma oportunidade para as “antigas casas grandes” de manter o seu capital de prestígio ao reafirmarem de modo ostentatório o seu poderio e riqueza.

Segundo Alzira Simões, do ISLA de Leiria, o porco detém na cultura e na sociedade portuguesas uma importância a vários níveis, sobretudo económico, simbólico e cultural. Foi uma das primeiras espécies a ser domesticadas. Foi, desde sempre, um dos animais domésticos cuja criação e consumo maior relevo possuiu e possui entre os portugueses. Existem imensas amostras proverbiais e gastronómicas sobre o porco, a quem se reconhecem as seguintes qualidades:

· Grande fecundidade, facilidade reprodutiva e precocidade;

· Extraordinária capacidade de adaptação ao meio ambiente;

· Proporciona um óptimo rendimento;

· Possibilita várias utilizações.

Ela vê o porco como um animal simbólico e que identifica a personalidade do povo português. Hugo Sarmento vê no povo português a indolência e a passividade que se atribui ao porco. Tanto é idolatrado como conotado negativa e pejorativamente. O porco é praticamente sinónimo de dorminhoco, teimoso, egoísta, invejoso, manhoso, rabão, voraz, sujo, imundo, etc. Mas também é apreciado e desejado quer a nível económico que a nível gastronómico, sendo símbolo da abundância, da abastança e da riqueza económica.

O porco aparece representado em diversos artefactos, artesanais ou industriais, como os mealheiros, as tábuas de cozinha, os paliteiros, os saleiros e pimenteiros, os porta-chaves, etc.

A ele estão ligadas também expressões antropónimas e metafóricas com valência sócio-culturais desfavoráveis como porcaria, porcalhona, marrão, marranço, gordo como um porco, só se lava quem é porco, teimoso como um porco, dormir como um porco, sangrar como um porco, etc.

Conclui a autora que o porco é um Animal Social Cultural Total, devido aos seus simultâneos cambiantes lúdicos, laborais, económicos e gastronómicos, à preservação de laços de parentesco e de relações de vizinhança e ao fomento da solidariedade e da cooperação.

As tradicionais matanças estão a desaparecer. Já são muito poucos os que seguem à risca os rituais que estavam por trás desta prática comunitária, em que participavam amigos e familiares. Mais do que uma festa que dura o dia inteiro, agora, a matança é um acto quase mecânico, que dura apenas umas horas. Em muitas aldeias esta tarefa já é feita por equipas que se especializaram neste trabalho, pelo qual cobram entre 20 a 25 euros por porco. Por dia, estes homens chegam a fazer 20 matanças. E os seus principais clientes são idosos que já não têm forças para a tarefa, mas que “não passam sem as chouricitas e os presuntos”.








Curiosidades da Matança do Porco

- As mulheres e as crianças não deviam assistir à matança. As expressões de "coitadinho" influenciavam o matador. Também se pensava que o porco "encolhia o sangue".

- As mulheres com a menstruação não mexiam na carne, apenas podiam ajudar a fazer o almoço.

- No dia da matança eram distribuídos pelas casas dos vizinhos pratos com algumas variedades de carnes para que todos provassem da matança.

- Os pés e as orelhas eram comidos no Carnaval (com arroz de espigos de couve).

- Com a gordura  (unto) que envolve os intestinos, depois de pisada com um maço de madeira juntando sal e colorau, fazia-se uma bola que envolta por uma membrana retirada da mesma gordura, servia para barrar o pão (quando ainda não havia manteiga).


Alguns ditos populares:

- "Das carnes, o carneiro, das aves, a perdiz e sobretudo a codorniz, mas se o porco voara não havia carne que lhe chegara";

- "Quem tem porcos tem chouriços e presuntos";

- "Rico como um porco";

- "Queres conhecer o teu corpo? abre ou desmancha o teu porco";

- "Homem e porco só dão lucro depois de mortos";

- "Lavar o focinho a porcos, as orelhas a burros, pregar a padres e converter judeus, é tempo perdido";

- "Leitão de mês, cabrito de três, mulher de dezoito, homem de vinte e três",...);

- “Morto por morto, antes a abelha que o porco”;

- “A raça é nobreza, a cabra é mantença, a ovelha riqueza, mas o porco é tesouro”

- “A cada bacorinho, vem seu S. Martinho”;

- “No dia de S. Martinho, fura o teu pinho, mata o teu porco, assa castanhas e prova o teu vinho”;

- “Em chegando o Santo André, quem não tem porco marta a mulher”;

- “No dia de Santo André vai à esquina e traz o porco pelo pé”;

- “A cada porco chega São Tomé”;

- “Em dia de São Tomé, vão os porcos à pilê”

- “Pelo São Tomé quem não tem porco prende o marido pelo pé”;

- “Porco no São João, se meão se achar podes continuar, se mais de meão acanhar a ração”

- “Por São Lucas, mata teus porcos e tapa tuas cubas”;

- “Bajulada de cão faz menino são, bajulada de porco faz menino morto”;

- “O leitão e o pato dos velhos fazem novos”;

- “Em Janeiro, o boi e o leitão engordarão”;

- “O boi e o leitão em Janeiro criarão rincão”;

- “Porca com três meses, três semanas, três dias e três horas, bacorinho fora”;

- “Quem bebe demais representa três animais: macaco ou porco ou leão”;

- “ Lavar o focinho a porcos, as orelhas a burros, pregar a padres e converter judeus, é tempo perdido”;

- “Dar pérolas a porcos”;

- “Quem se mistura com porcos come lavagem”;

- “Judeu e porco, algarvio e mouro – são quatro nações e oito canalhas”;

- “Nem moinho por contínuo, nem porco por vizinho”. 

- Amigo velho, toucinho e vinho velho;

- Bácoro em Janeiro com seu pai vai ao fumeiro;

- Bácoro de meias não é meu;

- Bácoro fiado, bom Inverno e mau Verão;

- Com um pedaço de toucinho, leva-se longe um cão;

- Cozido sem toucinho e mesa sem vinho não valem um tostão;

- Aí é que a porca torce o rabo;

- A mau bácoro, boa lande;

- Anel (arganel) de ouro em focinho de porco;

- Ao porco e ao genro, mostra-lhe a casa,  e ele virá cedo;

- A porca, apenas lavada, revolve-se na lama;

- A porco gordo, unta-se-lhe o rabo;

- Atar e pôr ao fumeiro, como o chouriço da preta;

- Cabrito e leitão de um mês, e cordeiro de três;

- Carne magra, de porco gordo;

- Fogo viste, linguiça!

- Leitão com vinho torna-se menino (tenrinho);

- Leitão de mês, cabrito de três, mulher de dezoito e homem de vinte e três.