A CIGANA,
TACIANA E SUA VIAGEM À TUNÍSIA
(TACIANA E O MAU-OLHADO)
Taciana está
no Texas fumando um cigarro e esperando um homem. Quis o destino que aparecesse
uma cigana. Esta ficou reberando nossa heroína. “Que queres cigana dos
infernos?”
“Te dizer
que só ganharás muito dinheiro se tirares o mau-olhado e só na Tunísia isto
poderá ser feito.”
Taciana
valoriza todas as superstições e
mistifica tudo. A explicação dos sábios é que não se deve temê-lo, porém
se deve tentar evitar certas atitudes que podem despertar a inveja. Não há razão para fazer disto uma preocupação
obsessiva.
O
“mau-olhado” é um conceito que existe em praticamente todas as culturas, não
sendo portanto, exclusivamente do conjunto de superstições judaicas, nem da
Tunísia. Os sefaraditas do Oriente Médio costumam usar uma antiga expressão
árabe Mashallah que significa: “Que D´us o livre do mau-olhado” quando saúdam
uma criança ou um jovem. Na Turquia, por exemplo, os pais não costumam mostrar
um recém-nascido a outras pessoas até que este complete 40 dias, pois a sua
beleza poderia despertar inveja. Os italianos
chamam o mau-olhado de mal occhio e, em várias cidades do sul da Itália,
é comum a presença de “especialistas”, quase sempre mulheres, que supostamente
o “afastam” com um ritual feito com azeite de oliva. Outras culturas possuem
superstições similares. O certo é que Taciana voou para o aeroporto e comprou
uma passagem pra Tunísia.
O mau-olhado aparece na Torá e no Talmud,
estando presente em inúmeros comentários, apesar de se considerar de modo geral
a superstição como sendo uma violação dos valores da Torá.
Na Torá
quando Jacob mandou seus filhos para o Egito para trazer algumas provisões
(Gênesis, 42), instruiu-os a entrar na cidade por portões diferentes. Por quê ?
Se todos os irmãos, que eram belos e
fortes, entrassem juntos por um mesmo portão, poderiam provocar nas pessoas que
os vissem sentimentos de inveja, “provocariam “o ayin hará”. José também é
imune ao ayin hará, pois foi abençoado por Jacob (Gênesis, 49:22) para estar
acima do mau-olhado, assim como seus filhos Efraim e Menasseh (Gênesis, 48:16).
Chegando na Tunísia, Taciana procurou os
sefaraditas, eles costumam usar
um amuleto em forma de mão como “proteção” contra o mau-olhado. A chamsa -mão-,
em árabe, ou chamesh, o número cinco em hebraico (representando os cinco dedos
da mão),– é um amuleto antigo e popular contra o mau-olhado, assim como os
fitilhos vermelhos e azuis que muitas mães amarram na roupinha de baixo dos
bebês ou de seus berços. Taciana comeu um
peixe com arroz e brocólis segundo o Talmud, o peixe é um outro símbolo
que também representa proteção contra o mau-olhado. Como os peixes vivem dentro
d´água, não estão na mira de olhares mal-intencionados. Nossa jovem comprou uns
livros e quis saber também sobre a Turquia, Grécia e Tunísia. Quis estudar
também o Oriente Médio, porque lá usa-se um colar com um olho azul, que “age”
como um espelho, refletindo e “confundindo” o “mau-olhado”. “Se aquela cigana
mentiu eu vou ao inferno atrás dela e buscar meu tempo de volta. ”Sou uma
prostituta e preciso ganhar muito ouro, dentes de elefantes de marfim, pérolas,
rubis, jade.”
Nossa
heroína é aflita e quer tudo muito rápido. Mau-olhado não é mera superstição.”Vou a um trecho aqui de um dos livros que parece
bem interessante:”
“Em 1705, o
Tribunal Rabínico da Tunísia foi presidido pelo Grande Rabino Simah Sarfati.
Filho de Marrocos (apesar de o nome
Sarfati indicar origem francesa), Rabi Simah, de repente, adoeceu tendo sido diagnosticado como portador de uma
doença incurável. Uma noite, Eliahu Hanavi, que segundo a tradição judaica
assiste a todos os nascimentos, apareceu em sonho diante de Rabi Simah e lhe
receitou um remédio: a cada nascimento de um menino, ele deveria organizar uma
noite de estudos do Zohar (O Livro do Esplendor), no sétimo dia, véspera da
Brit Milá. Essa noite de estudos acabou sendo conhecida como Billada (em
latino, castelhano ou português antigo: velleda, velada) e perpetuou-se no
judaísmo tunisiano até os dias de hoje. Rabi Sarfati curou-se e foi para
Jerusalém, através de Istambul. Faleceu em 1717 e foi enterrado no Monte das
Oliveiras.”
“Acho que
tudo isso é besteira, é melhor eu sair por aí e fazer minhas caçadas, por que
acreditar numa cigana? E que pessoa ou
pessoas tem mau-olhado em mim? Se eu fosse mais bonita seria miss universo e
não uma puta.”
Taciana
começou a andar e viu uma festa só de meninos.Essa celebração, conhecida apenas pelos
tunisianos, acontece na quinta-feira.
Os meninos da casa são tratados como reis por
um dia. Uma mesa em miniatura é posta para eles, com pratos, copos e talheres
em miniatura. É preparado um banquete para cada menino da casa, assim como mini
doces e bolos, o que contribui para criar uma atmosfera sem igual. Há muitas
teorias para a origem dessa festa e a mais segura seria a seguinte: aconteceu
num passado distante uma séria epidemia de difecteria que assolou a Tunísia,
deixando um saldo enorme de vítimas entre as crianças do sexo masculino. Como
por milagre, essa epidemia parou na semana em que se lê a parashá de Yitró. Daí
a celebração. Na terceira noite após a circuncisão, os parentes e amigos da
família vão à casa do recém-nascido, sem serem formalmente convidados, para uma
celebração especial. A origem desse costume vem do patriarca Abraão, que no
anoitecer do terceiro dia depois de ter sido circuncidado (com a idade de 99
anos), é visitado por D´us. Costuma-se dizer que o terceiro dia após a
circuncisão é o momento mais difícil para a criança. E, por isso, quando o sol
se põe nesse dia, o menino é considerado fora de perigo, o que enseja a
celebração de El Telet Laila. São oferecidos belos pratos aos convidados, enquanto
ouve-se música judeu-árabe numa atmosfera bem descontraída.Taciana estava
parada olhando e um moço disse “entre moça bonita”.
Taciana se lembrou de duas mulheres de destaque na Bíblia, Esther
e Judith . A sociedade judaica da Tunísia, ainda que bastante patriarcal,
também honra meninas. Mesmo não tendo a
importância da festa dos meninos, a data sempre foi comemorada em todas as
famílias, com uma bela mesa preparada com muitos alimentos.
Após a festa
dos meninos um rapaz se aproximou de Taciana e a convidou para que ela dormisse em seu castelo. Teria vários
empregados para lhes trocar as roupas e trazer-lhes iguarias à boca. Taciana
aceitou e entrou num tílburi com o jovem. No meio da noite Taciana estava numa
cama de dossel e várias empregadas faziam massagens em seu corpo enquanto o
jovem observava tudo sentado num sofá do tamanho de quatro camas brasileiras.
Rosa Maria
dos Santos Kapila
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