sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A terceira cor do gato



A TERCEIRA COR DO GATO
“Os gatos. Os gatos sim são loucos. Insones. Boêmios. Transtornados de desejo. Rasgando as madrugadas com gritos delirantes de amor.”
 M. M. Soriano
Para Ana Patrícia Rameiro

Mal consegui chegar ao fim da noite para sonhar. Já em Paraty me pergunto: a mulher só pode nascer de uma outra mulher que não seja sua mãe? Minha alma é nobre, eu tenho tédio. Em Paraty, nesta FLIP de 2011 observei que os espíritos criativos se suportam. Minha necessidade de ganhar dinheiro fez com que eu me acostumasse ao trabalho. O labore é humano,demasiado humano. Tenho fome, mas não fica claro de que exatamente seria essa fome. Aperto umas ameixas secas na mão,largo-as pela beirada do Rio Perequê-Açu para as Formigas que me dão bom dia comerem. Peço a mim mesma para não perder-me em minha euforia. Lembro-me da primeira frase do filme “ O PSICOPATA AMERICANO”: “abandona toda esperança,tu que entras aqui”. Paraty é uma saída emoldurada para mim.E é de minha querida Madonna que usurpo a frase.”: a vida é um mistério,todos devem ficar sós. O Rio Perequê me eleva, sinto uma autoconsciência.Cadê as respostas que tanto quero? Elas estão chegando. Estou treinando minhas narrativas. Meu querido Novalis, para onde vamos? Sempre para casa.Mas  o Hostel Casa do Rio é o Éden. Havia anos que eu não via o sol nascer. Às seis da manhã eu sentava numa cadeira de praia, metia minha mãozinha no Rio e conversava com o sol. Parece que vejo sinais de que sendo COLPORTAGEM eu consiga continuar inventando minha ficção. Felicidade chama-se estranhos prazeres. Eu acho que sempre estive na pista de toda espécie de loucura. Paz é tudo.Alma minha indócil, já pensou ter olhos de Liz Taylor?E ter os músculos banhados de ouro como Angelina Jolie em “Beowulf?” No frio de Paraty estou dentro de duas calças compridas e o sol se deslumbra comigo.Aquela estrada no mar deve ser para um navio muito bom. Sopro abelhas. Respirei com a mão na água do rio que passa no Hostel. Em momentos menos pesados eu pensei ser “As Flores do Mal” Ou então princesa de alguma nuvem. Aqui eu não tenho fumos de cozinha. Cedinho vejo a mesa farta de um café que é um banquete. Não faço nada, nem minha cama. Princesa total. Eu quero fazer mundos e idéias. Compro umas tangerinas  mágicas, sem trabalheira para comê-las. Tive um namorado que se chamava Jack e eu o chamava  “o loucuro”. Um dia eu o levei  a minha morada. Não ficou sem fazer nada. Ando  muito em Paraty,sem fazer nada. Gosto do enorme bem que o mundo me oferece. Quanto mais profundo o sono,melhor o prazer. Um astro peregrino me clareia o sono. Os mortos  de meus sonhos dançam sem parar. Meu tempo de amar me parece muito curto e me inspira muitos ais! Minha profissão é materializar meus sonhos. Outrossim tive um sonho terrível em Paraty – perdia meu passaporte. Quase perdi o final da semana  com receio de que o sonho fosse verdade. Alguém queria ele. A inveja corrói a podridão de nossos ossos. Ainda penso que formigas na janela me dão bom dia. Tenho lembranças castradoras.Aquele amor que na boca da noite trazia-me flores amarelas caiu aos solavancos. Tenho idas e vindas para fazer.Calangos param ararinhas a fim de ouvi-las. Subterrâneos eram esgotos de ratos – amigas, sou deles. Fui a um lugar com muitas árvores, corri, brinquei com muitos bichos. Até ensaiei ser corredora. Dei umas dez voltas pela beirada do mar, pavões, cachorros  e cutias cantam para  mim.  AMOR PERDIDO É INACHÁVEL. Tantos volteios, tantas cintas liga,beijos de roubos. A carne crua do amado, eu pintava e fazia mochilas de ir para a Bolívia. Prefiro me suavizar; peneirar as pepitas de ouro  em meu  tacho de latão. Ouço, brigo, falo. O mundo foi embora, o mundo vai embora  para sempre.Soluços para dentro. Regurgitamento de polvos,bichos nojentos. Podia  ter trazido livros para lê-los. Chegando aí, eu  canto, dormindo.