terça-feira, 10 de dezembro de 2013

dedo de adão

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dedo de adão



POEMA CHEIO DE GALHOS
O trabalho mental de cada  folha
/invade o poder mágico de cada galho
As folhas nascerão  sem a paternidade de ninguém
O domínio é um fel
Uma vez engoli minha bílis sem anotações fáceis
Mas tenho um inevitável confronto com um homem.
Tensão
Opostos
Houve um tempo  em que eu só lia Filosofia e escrevia Poesia.
Centenas de bichos de luz caíram em minha panela
Olhei para fora da cozinha e  vi o dedo de Adão.
Com a respiração  me comandando eu disse: “Vai se fuder”.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Jennifer



TRECHO DO DIÁRIO DE JENNIFER   GIBBONS  NA CADEIA, PRESA AOS 14 ANOS.
Eu sentia como se meu amante estivesse ali comigo. Observando-me. Eu me sentia esbelta e bela. Olhei tristemente pela janela, observei o hospital, atenta e suavemente. Meu amante aproximou-se devagar por trás de   mim,acariciou  ternamente meus ombros nus e nos abraçamos. Beijamo-nos,enquanto suas mãos seguravam meus seios pequenos. Levou-me para a cama. Fiquei deitada,triste,  e  exposta, minhas mãos acariciando-me suavemente,mas eu sentia que eram as mãos de meu amante. Sentia-me  tão triste e tão sozinha. Soltei uma baforada do cigarro apagado. Vou me lembrar daquela noite e imaginar que havia realmente um  amigo comigo na cela escura e solitária.
(Jennifer tirou a camisola e continuou andando pelo refeitório )

domingo, 24 de novembro de 2013

Pê Itebi em Abacoros



Pê Sérgio Itteb em Abracoros
Conto de Rosa Kapila   E  Paulo Betti


Difícil estar em um ambiente sofisticado e ter de encarar as nossas próprias imperfeições, traduzidas à tona pela escrita. Algum dia eu ganhei uma bicicleta de verdade, uma Monark cor de rosa. Agora vá. Escreva a história. Escrevo de lápis, igual Shelley e Keats. E não vou desmaiar de cansaço. Fugi de casa e vim escrever em Abracoros. Há um aforismo Zen que diz: “Ao falar, fale; ao caminhar, caminhe; ao morrer; morra”. Acrescento: ao escrever, escreva.
     Vou começar a narrativa agora. Sou viúva três vezes. Deixo bem claro que dos homens só quero a inteligência.
     Um cineasta, poeta, escritor, ator, dramaturgo e feitor de muitas outras artes parou diante de um poste em Abracoros e ficou lendo um panfleto sobre um show que haveria na cidade -  um carrinho de mão passou por ele e, depois, duas galinhas coloridas. Aquela cidade não oferecia  perigos; entretanto sou narradora da história, apenas conto.
     Nenhum personagem me vê.
     Seria belicoso de minha parte; uma forasteira, saltar de um ônibus em um lugar e querer amigos. Lembrei-me de Brecht olhando pelas janelas... via mulheres com sapatos grandes numerando pedras. Para conhecer o teatro basta ficar em contato com as ruas. Ruas pobres, ruas ricas, ruas vazias, ruas cheias.
     Nosso ator, aqui na história, estava com as mãos nos bolsos de uma calça jeans e fitava o poste; do nada emergem três pessoas; sinistros, digamos que jogadores do lado obscuro da vida. Todas as três personas achavam que haviam descoberto uma nova língua e usavam linguagens secretas.
Eu estava com Moliére, Ibsen e Anne Sexton. Escondi tudo em minha bolsa mole e feiosa. Sabia que o ator é famosíssimo, fez centenas de filmes, novelas, peças de teatro.
     O segundo personagem aparece numa bicicleta: Senhor  Gerimário – e pede licença a Pê Itteb para prender a bicicleta ao poste com um cadeado. Arrancou do guidom uma lata de cera e uma flanela. Olhou Pê e perguntou se ele era novo no bairro.
     “Não. Nasci por essas bandas. O Senhor  vê TV ou vai ao cinema?”
     “Gerimário” – é meu nome. Não vejo TV. Detesto. Só teve um ator no mundo de quem eu gostava: Raul Cortez. Estou indo ao cemitério, quer ir comigo?
     “Como é seu nome?”
     “Pê”
     “Senhor Pê, me siga. Vamos fazer o passo do ganso. Vou na frente lhe orientando. Caminharemos tipo numa marcha fúnebre. Concorda?”
     “Concordo. Senhor Gerimário por que está indo ao cemitério?”
     “A  prosa é longa. Mas vou abreviar. Todo dia eu encero o túmulo de minha sogra”.
     Do outro lado da calçada haviam duas jovens – uma morena e a outra loura. Cada uma portava um caderno e uma caneta. Quando viam o olhar de Pê, viravam as costas, se abraçavam e davam risadinhas. Seguiam também Gerimário e Pê em marcha fúnebre; na outra calçada.
     Comecei a ficar com fome e entrei em um boteco.
     “Por gentileza, o Senhor tem aí ovo de pata?”
     “tenho, falou o homem do bar com um pano de prato imundo no cangote”.
     “Por favor cozinhe dois em uma panela e coloque uma colher de sal grosso no fundo para que os ovos não se quebrem. Bastam quatro minutos. Eu conto”. E, por obséquio quero também dois pães franceses”.
     Corri para a rua – não podia perdê-los de vista. A marcha era fúnebre mesmo.
      Quando soou a badalada dos quatro minutos, pedi os ovos, eu tinha em minha bolsa duas vasilhas  que imitavam pão. Quebrei os ovos, ajeitei nos vasilhames, pedi pimenta do reino, sal e azeite. Arrumei os dois ovos já dentro dos pães e catei meus guardanapos. Andei normal, comendo no meio da rua. Sinto-me Kafka na “Colônia Penal”. Com luz do norte, meu sorriso fica no lugar. Cena de recordação do tempo em que eu era atriz.
     Parecia que as quatro pessoas haviam combinado a sincronia. Teve uma hora que ri tanto que me engasguei com o ovo da pata.
     Naturalmente eu estava invisível.
     No cemitério, sentei-me em um túmulo e acabei a merenda. As meninas ali, mudas, dando risadinhas. Eu acho que posso caminhar sem o chão.
     “E agora, senhor Gerimário?”
     “Primeiro vou urinar amigo Pê”.
    “Mas isso é uma profanação!”
     “Só urino nos lugares que eu gosto  e o túmulo fica mais limpo.
À noite venho dormir aqui”.
     Na hora em que Gerimário urina, as meninas  fogem.
     Pê decidiu puxar assunto com as garotas: “vocês querem autógrafos?”
     Elas deram uma corridinha entre os túmulos, viraram as costas e continuaram sorrindo.
     “Vamos voltar ao poste para eu pegar minha bicicleta – falou Gerimário.”
     Agora somos cinco em marcha fúnebre.
     Quem sou eu?
     Vitorinha/Lena Rios/Aldenires/Lise Gabriele/Cecília Alencar/Bárbara Vasconcelos – nossa Babete/Marleide Lins/Ana Planchêz/Edna Médici/Juliana Craveiro/Olívia Santos/Valma Lopes/Selma Coelho/Cristina Sarney/Suzana Vargas/Elma Alegria/Cecilia Dionízio/Anne Sexton?
     Escrevo porque sou sozinha e ando pelo mundo sozinha. Uma coisa eu quero: escrever incompreensões. Escrevo porque sou Henry James.

POST SCRIPTUM:   PAULO BETTI CONTOU ESSA HISTÓRIA DE UMA FORMA BEM REALISTA COMO ESTÁ O TEXTO. EU, ROSA KAPILA APENAS PASSEI  A LIMPO A FALA DELE.
    













     

domingo, 13 de outubro de 2013

Falange Dourada (ROSA KAPILA)
RECEBI UMA CARTA DE MINHA AVÓ EMYLI, QUE MORA EM LONDRES ( ELA AINDA É DAS ANTIGAS, FAZ CARTAS). UM TRECHINHO DA CARTA: "RELUTEI MUITO PARA VER O FILME "A VIDA É BELA". FINALMENTE VI E ACHO QUE O CINEASTA ERROU NA MÃO. ESSE FILME DEVIA CHAMAR-SE: "A VIDA É UMA MERDA".

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

ÍCARO

ÍCARO,
TODOS PASSARÃO
EU
PASSARINHO.
TRILHÕES DE BEIJOS DE KAPISCHA.

domingo, 1 de setembro de 2013

EU SOU UMA NAVALHA E CORTO MEUS AMORES

11/04/2013 EU SOU UMA NAVALHA E CORTO MEUS AMORES
 “Contemple a sua amante - Pedra!” ( Hart Crane. In poema: Medusa. )
 EU SOU UMA NAVALHA E CORTO MEUS AMORES EM MINHA AUTO-APRECIAÇÃO INGÊNUA. PRECISO DE UM PEIXE-VELA PARA SUBSTITUIR TODAS AS LUZES OU UM VAGA-LUME A MAIS SIMPLES DE TODAS AS LÂMPADAS NATURAIS TUDO POR UMA LUZ TORNAR A NOITE TOLERÁVEL! SALTO DO PENSAMENTO TRAÍDOS SOMOS ENQUANTO DORMIMOS SÃO AS AÇÕES DAS TREVAS SOU HABITANTE DE UM ELEMENTO ESTRANHO FILHA DE UMA ESCOLA NOTURNA COMO SERÁ QUE FOI A VIDA NOTURNA ANTES DA ELETRICIDADE? PULEI PRA NOITE QUANDO AS HORAS DO DIA FORAM FICANDO CONGESTIONADAS PARA MEU BEL PRAZER PASSEI A VIDA INTEIRA CONQUISTANDO A NOITE MUNDO SEM SOL QUE ME VENHAM TODAS AS VELAS GOTEJANTES!
 SENHORITA DOS 1.000 BLOGS www.rosakapila.zip.net Escrito por Rosa Kapila às 13h56 [ (0) Comente ] [ envie esta mensagem ]

sábado, 31 de agosto de 2013

primeira copa do mundo do brasil

PRIMEIRA COPA DO MUNDO DO BRASIL NO Uruguai, em 1930, O Brasil esteve presente para a disputa da 1ª Copa do Mundo, mas um desentendimento entre times do Estado do Rio de Janeiro e times do Estado de São Paulo, ao preparar a escolha de seus jogadores, fez com que os melhores jogadores não participassem. A seleção entrou em um triangular com Iugoslávia e Bolívia, onde somente o primeiro do grupo se classificaria. A Iugoslávia venceu o Brasil por 2 gols a 1 e a Bolívia por 4-0, e se classificou, eliminando na primeira fase o Brasil para a disputa da 1ª Copa do Mundo, mas um desentendimento entre times do Estado do Rio de Janeiro e times do Estado de São Paulo, ao preparar a escolha de seus jogadores, fez com que os melhores jogadores não participassem. A seleção entrou em um triangular com Iugoslávia e Bolívia, onde somente o primeiro do grupo se classificaria. A Iugoslávia venceu o Brasil por 2 gols a 1 e a Bolívia por 4-0, e se classificou, eliminando na primeira fase, o Brasil. Rosa Maria Kapila www.rosakapila.zip.net

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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

ROSA MARIA DOS SANTOS KAPILA -SENHORITA DOS 1.000 BLOGS MONTE DE LEITURAS DE ALFREDO MONTE

Nova publicação em MONTE DE LEITURAS: blog do Alfredo Monte

OS VALORES DA TRIBO: Edith Wharton, Scorsese e o cetim preto

by alfredomonte
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(resenha publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em primeiro de fevereiro de 1994)
“Pobre Ellen... o que se pode esperar de uma moça autorizada a usar cetim preto em seu baile de debutante?”
Era de se imaginar Martin Scorsese lidando com tais preocupações? Ou com um triângulo amoroso da alta (mas jeca) sociedade novaiorquina dos anos 1870? No entanto, foi ele quem se arriscou a adaptar cinematograficamente A Era da Inocência (The age of innocence, 1920, que comento na tradução de Sieni Maria Campos), de Edith Wharton. O filme ganhou o título nacional de A época da inocência.
Scorsese, no fundo, não está tão longe assim da sua temática habitual, que mostra códigos de sobrevivência e adaptação (ou falta de). Em suas obras-primas supremas, O touro indomável & Os bons companheiros, tais códigos eram revelados na periferia, no submundo, e através da extrema violência. A necessidade imediata e grosseira da sobrevivência ou as demonstrações fisiológicas da violência não aparecem em A Era da Inocência. Vemos, contudo, os valores da tribo tecendo impiedosamente o casulo em torno do protagonista, Newland (vivido no filme pelo até agora camaleônico Daniel Day Lewis), cuja postura quanto à etiqueta e vestuário é tão meticulosa quanto a de um novaiorquino posterior, Patrick Bateman, o “psicopata americano” criado por Bret Easton Ellis.
Bateman tem de se movimentar no mundo do politicamente correto. Os ricos de Edith Wharton podem se manter na “inocência”, podem mostrar-se politicamente incorretos porque os privilégios e códigos (provincianos que fossem) jamais eram discutidos, pareciam “fenômenos naturais”. Com toda a sua vida esquizofrênica, Newland fica ao ponto de surtar, interferindo na engrenagem social, ao apaixonar-se pela já referida Ellen, a do cetim preto, prima de May, sua noiva (e depois, esposa). Parece trivial. Não é. Parece Proust, pelo tratamento detalhista da etiqueta social. Mas Wharton  tem um outro belo texto, Ethan Frome, que se passa num meio completamente diferente, quase primitivo de tão agrário, e no entanto com problemas similares de renúncias e asfixias morais.
Quando nos mergulha no dilema de Newland, descortina criticamente a mentalidade que sustenta a preocupação com o cetim preto. Estamos longe de Jezebel, que girava em torno do uso de um vestido vermelho. No melodrama de William Wyler (com Bette Davis) não se chegava ao cerne das coisas, o vestido era um pretexto para situações carameladas e atitudes descabeladas. Nas intrigas em torno do cetim preto há sangue derramado (simbolicamente), e chegamos ao cerne das coisas.
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Edith Wharton criou um grande personagem masculino, porém as duas pontas femininas do triângulo são muito mais desafiadoras, principalmente numa transposição como é o caso da versão cinematográfica, e é ótimo terem sido entregues às mais-que-competentes Michelle Pfeiffer e Winona Ryder. Carisma e densidade incontestes de La Pfeiffer, mas Winona é uma escolha particularmente feliz (após ter brilhado em Drácula, digam o que quiserem), pois May é dificílima. Tem uma falsamente passiva participação no desenrolar dos acontecimentos e é quem consegue, subterraneamente, tecer o casulo que envolve e paralisa Newland, consumando a expulsão de Ellen. E sempre “inocente”. O termo vilã não lhe assenta, porém é uma admirável conspiradora e estrategista (e não estaria nada deslocada no mundo de Henry James). Todavia, é seu pai, mr. Welland, quem talvez melhor caracterize a “inocência” da elite novaiorquina de então, pedindo para ser poupado de tudo o que a existência tem de desagradável.
O cetim preto, então, é um motivo tão forte para a exclusão (quando não aniquilamento) de alguém, dentro de tão cerrado código, quanto uma delação ou outros motivos já explorados pelo universo scorsesariano. São signos diferentes que expressam uma mesma guerra social.
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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ROSA MARIA DOS SANTOS KAPILA  SENHORITA DOS 1.000 BLOGS
TEXTO PARA MEUS ALUNOS DE JACAREPAGUÁ   TURMA 3010

As notícias: abordagem semiológica. Do signo ao discurso
2.8 As notícias: abordagem semiológica. Do signo ao  discurso
Não é exagerado dizer que a semiologia e a semiótica impulsionaram os primeiros estudos sobre a linguagem do jornalismo. Fundando-se na intuição originária saussuriana da arbitrariedade do signo, muitos académicos desenvolveram uma análise mais u menos exaustiva dos sistemas de signos postos em jogo na linguagem jornalística.
A relevância da semiologia para o jornalismo tornou-se manifesta logo que Roland Barthes lançou uma crítica ideológica da linguagem da cultura de massa (Mythologies, 1957), e fez a primeira desmontagem semiológica da linguagem, determinante para os estudos que viriam depois: a linguagem dos media franceses durante a guerra da Argélia tornou-se uma espécie de impulso inovador para as práticas de descodificação que vieram a ser praticadas no âmbito destes estudos.
A concepção da linguagem como sistema de signos convencionais e arbitrários (Barthes, 1989, pp. 11-12; Saussure, 1978: pp. 40-41) permitiu uma compreensão diversa do papel da linguagem na estruturação de relações sociais. Gerou percursos diversos no âmbito da análise da notícia, mas que convergiram em torno da sua importância simbólica, discursiva e narrativa. Alguns trabalhos de semiótica e de semiologia influenciados por Barthes embora com certa atenção às dinâmicas sociais vêm de autores que geralmente se filiam na corrente dos estudos culturais.
A semiologia foi directamente inspiradora dos trabalhos do Centro de Estudos Culturais de Birminghan que na colectânea Culture, media and language (Hall, Lowe ,Hobson e Willis, 1980) desenvolveram intuições de origem semiológica para a análise do posicionamento ideológico dos media. Em “Ecoding /Decoding”(2002), através de categorias da semiologia articuladas a uma noção marxista de ideologia, Hall insiste na pluralidade das modalidades de recepção dos programas televisivos.
Argumenta, também, que podem ser identificadas três posições hipotéticas de interpretação da mensagem televisiva: uma posição “dominante” ou “preferencial” quando o sentido da mensagem é descodificado segundo as referências da sua construção; uma posição “negociada” quando o sentido da mensagem entra “em negociação” com as condições particulares dos receptores; e uma posição de “oposição” quando o receptor entende a proposta dominante da mensagem mas a interpreta segundo uma estrutura de referência alternativa.
Na verdade, os estudos sobre a linguagem foram largamente marcados por uma convergência entre um crescente interesse na ideologia (Hall, 1977; Glasgow
University
Media Group, 1976), estimulado pela influência de certos autores marxistas como Gramsci bem como pela redescoberta da problematização da linguagem pela semiologia francesa (Barthes) e pela escola culturalista britânica (Hall et al., 1993) (ver a propósito Traquina, 2000, p.18).
Dois dos trabalhos mais importantes neste domínio foram Reading Television de John Fiske e James Hartley e Understanding the News de James Hartley. Hartley, nomeadamente, parte da ideia estruturalista segundo a qual um sistema é uma estrutura de elementos relacionados entre si de acordo com determinadas regras. Para o entender, é necessário distinguir os diferentes elementos uns dos outros, e demonstrar como é  que eles são seleccionados e combinados de acordo com as regas e convenções que lhe são apropriadas.
Aceitando a premissa que o valor dos signos é determinado pela sua relação com outros signos no interior do sistema, a selecção de cada palavra não é determinada pela natureza do referente mas por um processo de selecção e combinação estruturalmente regulado (Hartley, 1991, pp. 15-16).
É impossível falar das notícias como um sistema sígnico autónomo das convenções e características da linguagem (. . . ) Não é o acontecimento que é relatado que determina a forma, conteúdo, significado ou a «verdade» das notícias, mas são antes as notícias que determinam o que é que o evento significa. (Hartley, 1991, p. 15)
Hartley distingue entre sistemas de linguagem e discursos, distinguindo os segundos como diferentes formas de uso tornadas possíveis pela linguagem. O discurso implica o encontro entre sistemas de linguagem e as condições sociais: a sua compreensão exige uma atenção mais próxima às circunstâncias históricas, sociais e culturais da sua produção e consumo. Estudar um discurso específico implica atender à sua função social (Hartley, 1991, p. 6).
Apesar da importância conferida à linguagem como sistema, importa estudar os constrangimentos na análise das notícias como discurso e consequentemente o contexto em que estas funcionam: “As notícias são uma instituição social e um discurso cultural que só existe e ganha significado em relação com outros discursos e significados que operam ao mesmo tempo” (Hartley, 1991, pp. 8-9). A ideia é que os signos não expressam apenas relações entre si nem com o referente mas entre o enunciador e enunciatário (Hartley, 1991, pp. 22; 25).
Por isso, qualquer verdadeira interpretação é dialógica por natureza (Hartley, 1991, p. 26). Na actividade quotidiana de produção noticiosa, a potencial abertura dos significados é objecto de um processo de uniformização do significado em detrimento da pluralidade significativa verificando-se, por vezes, a imposição de um processo de “leitura preferencial” (Hartley, 1991, p. 63).
Os signos são condicionados pela forma de organização social em que os participantes se envolvem mas também pelas condições imediatas da sua produção. Estas, na perspectiva de Hartley, implicam a atenção à estrutura social de
classes
e às relações de poder e de dominação que lhe são inerentes. A vida dos signos nesta lógica é também um campo de confronto social e ideológico (Hartley, 1991, p. 74). “Podemos perceber como é que as notícias funcionam, que interesses servem, podemos recorrer a esta compreensão cada vez que vemos ou ouvimos notícias” (Hartley, 1991, p. 9).
Fonte: CORREIA, João Carlos. O admirável Mundo das Notícias - Teorias e Métodos. Portugal: Labcom, 2011. Disponível em http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/20110524-correia_manual_noticial.pdf acessado em 24 mai 2011
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