terça-feira, 30 de junho de 2009

FOME OCULTA
“Boca de mel,coração de fel”
( Provérbio Português )


Quebrei um ovo no meio do redemoinho
/de meu pirão.
Queria sustância para enfrentar
/o diabo que está sempre procurando
/alguém para devorar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O TEMPO, ESSE FORNO DE ASSAR ROSTO!
“As pessoas podem preencher o vazio com o que
quiserem imaginar”
( Steve Jobs )

Meus melhores dias já raiaram.
Aquele papo não me convence mais e nem
/as horas em círculos a girar.
Vagueio de corredor em corredor nesse meu prédio
/e da cobertura vejo os pobres miserando lá embaixo.
A massa a passar em paletós e capotes de inverno
/anunciam suas lutas.
Eu, testemunha como um anjo à espreita
Divago
Oscilo
Meneio.
Desço do prédio infrene no asfalto.
E, escutando um burburinho vou até a Riachuelo
Fazer um hemograma.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

BOILEAU-DESPRÉAUX: UM POETA IRRITADO
“Noites para dormir e dias para o ócio”
(Nicolas Boileau-Despréaux – 1636 -1711 )


Às vezes caminha-se pelo inferno com Dante.
O poema nos informa como chegou em tal buraco!
E como a gente se ferra.
Meu relógio me espera e minha lâmpada me ouve
/enquanto leio Henri Barbusse.
Ainda hoje, de manhã, trupiquei nos gatos de Baudelaire
/miando pro sol.
Uma moça magra, com um bolsão e um cintão
/pisa numa barata em fuga.
Enquanto o sol desperta a rosa, figuras me assustam
/nos jornais.
A lua já se escondeu do sol há muito tempo
/mas eu torço para que a noite volte logo, para que
/eu me conserve em paz sob o teto que me ilumina
/e saia dessa rua em tumulto.
Um clarão me avisa que vem chuva.
Meu amigo da banca me fala dos jornais: “só violência
/e sexo.”
E aquele caso: (...) “assim seja a tragédia, assim marche
/e se explique.”
P.S. o verso entre aspas é o final do poema “Da tragédia”
De Boileau Despréaux.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

MEUS OLHOS DORMEM SOB DUAS JANELAS DE VIDRO
E UMA GRADE DE PLÁSTICO
“O olho é a luz em repouso”
( Jim Morrison )


Desenhei um cacho de nuvens
A fim de transformar a paisagem
Num mundo mais suportável.
Meus olhos, vestidos de óculos acham tudo obnublado!
Vertigo!
Vejo “Um corpo que cai” no corujão e a olho nu
/não consigo decifrar os mistérios de Hitchcock.
O melhor sono é o da TV.
Os mistérios passam correndo, no escuro.
Meus olhos, entre duas janelinhas de vidro e
/uma grade de plástico, dormem.

terça-feira, 16 de junho de 2009

TEXTO TEMPORÁRIO PARA OBRIGAÇÕES OCULTAS
“Em meu ofício ou arte taciturna/ Exercido na noite silenciosa/
Quando somente a lua se enfurece/ E os amantes jazem no leito (...)
( Dylan Thomas )


Os fantasmas sentam nas cadeiras, apenas para me olhar...
E me respondem porque eu colo tanto em Deus.
Esta é para você, bebé, que anda com Jesus em volta do pescoço,
/mas só gosta de pedra porque pedra não se mexe.
Toda vez que penso em você
Eu fico cega
Como se estivesse na Caverna de Platão.
Estar com você é o nosso passado me empolgando
Por numerosas ilusões.

domingo, 14 de junho de 2009

FLOX

VOLTA-TE PARA TUA TERRA

PORQUE O TEMPO É IRRESPONSÁVEL

NEM TODO MUNDO QUER SABER DE BOAS VINDAS

TU COMO UMA MÁSCARA

ÉS PURA NAVEGAÇÃO

VIAJANTE CANSADA

AINDA TENS QUE APRENDER COMO SE PROTEGE UMA FLOX

ARRUMA-TE PARA O SEM NADA.

ESCUTA-TE.

AS LEMBRANÇAS SE ABREM QUE NEM MALA VELHA.


Escrito por Rosa Kapila às 13h25
BEIJO, MÁRIO DE ANDRADE



PENSO NAQUELE CAMINHO

QUE MINHA SOMBRA SEMPRE SE OLHA

FURIOSO

O VENTO TALHA MEU ROSTO

PARA QUE EU VEJA "UMA GOTA DE SANGUE EM CADA POEMA."

MEU PENSAMENTO SE TRANSFORMA NUM LEQUE DE SEDA JAPONESA

QUE EU CARREGAVA COM DONA GENEROSA PARA A MISSA DA IGREJA

DO BAIRRO VERMELHA NAS MANHÃS DE DOMINGO.

MAS AGORA EU ESTOU SOZINHA

EM UM DESERTO UIVANTE

TENHO QUE CORRRER

TENHO QUE CORRER

TENHO QUE CORRER


Escrito por Rosa Kapila às 13h20
ANA IVA

"Chove medo nas ruas."

(In: Colonia - de Carlos Drummond de Andrade )



MEU TEXTO ESTÁ GRITANDO

MAS É DE MEDO DO TÚNEL DO JOÁ

COM LÂMPADAS SOLITÁRIAS (UMA AQUI OUTRA ACOLÁ)

O CÔNCAVO-SINISTRO, ME ASFIXIA.

ANA IVA COM SUA PERÍCIA E CANSAÇO ACELERA - LEMBRANÇAS DAS BALAS QUE VOAVAM PELO CÉU.

E DIGO QUE VEJO UMA ÁRVORE APONTANDO NO FIM DO TÚNEL. NÃO É LUZ NÃO É NADA...

ANA IVA FAZ-ME LEMBRAR OS DESENHOS DA SENHORA ADÃO, DE LIVROS DE HISTÓRIA.

ELA TEM CARA DE MITOLOGIAS.

SE EVA TIVESSE BATIDO PERNAS APRECIANDO SAPATARIAS

A HISTÓRIA DO MUNDO SERIA OUTRA.

ANA IVA TEM A FIRMEZA DE ANNE PARILLAND NO FILME NIKITA

( A SURPRESA DO PULO DA GATA ).

NA PRAÇA SIBELIUS RESPIRAMOS.

A AUTO ESTRADA LAGOA-BARRA DÁ-NOS A SENSAÇÃO DE RENASCIMENTO PELA MEMÓRIA DA ÁGUA

DIA E NOITE SE ABRAÇANDO NAS ILUMINURAS.

ALI TAMBÉM O OLHO DA LUA PROCURA.

ESSA PAISAGEM EU ALUGUEI EM MINHA IMAGINAÇÃO.


Escrito por Rosa Kapila às 22h29
COMO UMA ESTRELA FORA DO CÉU
“alguma coisa em mim,deseja alguma coisa
que não sei” (Hilda Hilst)


Desço do trem uma parada além do destino
Como se procurasse alguém na ponta dos pés
/observo o campo estranho onde estou.
Como num sonho de Agatha Christie, vejo
/no sovaco de um homem “O doente imaginário”
/de Molière.
Se eu não fosse doida,eu seria doida, agora.
Me sinto solitária como um morcego voando
/pelas grutas de uma caverna.
Estou naquele lugar como uma estrela fora do céu.
Preciso dar uma forma para meu corpo
/e pegar um trem de volta.

sábado, 13 de junho de 2009

O OLHO DA LUA PROCURA

E eu vos direi "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama

pode ter ouvido

capaz de ouvir e de entender estrelas"

(Olavo Bilac - final do soneto "Ouvir Estrelas")



TODOS OS POETAS CONSTANTEMENTE EXPERIMENTAM

NOVAS OCORRÊNCIAS:

A TROCA DE TEMAS

A LIMITAÇÃO DE EXTRAIR FOGO DE PEDRA

O MATERIAL OCULTO DIANTE DOS OLHOS

O DESAFIO DA IMAGINAÇÃO

O SABER DE NÃO CONSEGUIR ESCREVER SOBRE QUALQUER COISA

PALAVRAS DESENCAIXADAS.

TODO POETA SABE:

QUE SONHAR COM O ASSUNTO

PODE SER APENAS UM APITO DE TREM DISTANTE.
CAMÕES, UMA ESTRELA INFELIZ
“Triste cidade! Eu temo que me avives
uma paixão defunta!” (Cesário Verde )


Eu não sou cheiro que se flor
E aqui está Camões me trazendo cheiros
De uma paixão defunta, no seu Lusíadas
/de”FERO AMOR” sobre Inês de Castro.
Eu, uma contemporânea que pertenço ao cotidiano
/de muita gente...frequentando a mesma praia, indo
/ao supermercado ou ao cinema... tenho a mesma sensação
de Cesário Verde em carta ao amigo Antonio de Macedo Papança
“Uma poesia minha, publicada numa folha bem impressa,
/comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso,
/um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém
/falou, nem um noticiário, nem uma conversa comigo, ninguém
/disse bem, ninguém disse mal! (...) literalmente parece que
Cesário Verde não existe”.
Eu, que tento fazer as pessoas pensarem sobre o mundo e a vida!
Vi o teu rosto desenhando num navio.
Ainda carrego em minha boca o cheiro do teu poema
/redivivo.
Tanto adiei minha poesia para outro século
Que hoje ela me deixou na mão, a ver navios!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A CALMARIA DO RIO PÓ
“Ao contrário da prosa, a escrita em versos
é uma surpresa a partir de uma ideia que vem de
outra parte” ( Gary Snyder )


Não me peçam pra ir embora... / pois meu corpo
/ é um rascunho que está sendo melhorado
por isso tento encontrar respostas incomuns
de associações longínquas.
Dizem que o branco é também cor de gótico.
Enquanto passeio nas alturas tento não vomitar
No negro
No branco
No colorido arco-íris
Nascido numa lagoa mas que poderia
/ter vindo de céus de Itália
do Rio Pó
Rio famoso de nascedouro de Línguas Portuguesas
De faíscas de Vesúvio e de lascas de Etna.
Até segunda ordem não mexam em meus papéis
De branco
De preto
De rosa.
SONHEI QUE PLATÃO ME TRAZIA UM CORAÇÃO VIVO



ESPERO UMA MENSAGEM

DESSAS DE MULTIDÕES

QUE DESENTRELACE

OS NÓS ATRASADOS DE UMA CILADA.

É O PROGRESSO QUE CORRE FEITO LOLA

ARVORADA

ALOPRADA

OU SÃO OS PISTOLEIROS SOLTOS?

UMA MENSAGEM RÓSEA.

UM MOMENTO PARA MEU OLHAR PARALÍTICO DESLUMBRAR

UM ÚNICO SOL QUE NÃO TREMA AO MEIO-DIA

ESPERO UMA MENSAGEM

DE SURPRESA

ASSIM COMO UM CORAÇÃO VIVO

ME TRAZIDO POR PLATÃO

ESPERO UMA MENSAGEM

COMO UM OLHO MECÂNICO

NO MEIO DA TESTA.
BLOSSOM

CHEGOU A HORA

LUZ E TREVA

ATEIO FOGO A UM VERSO

CELEBRO SÍMBOLOS E LIVROS

OH MEU CÉU DE CARNEIRINHOS

O CRISTO REDENTOR

FICOU AZUL, SOLTO ENTRE A BRUMA, SOZINHO, NO CÉU ME ASSUSTA

PASSO A FERRO AS MECHAS REBELDES DE MEU CABELO

ONDE ACABARIA A JORNADA?

AS MÃOS EM CONCHINHAS APARAM O RELÂMPAGO

COM UM MARTELO NA MÃO FAÇO TREMER O SOL.




Escrito por Rosa Kapila às 15h47
DESORDENS MENTAIS



"O melhor momento para planejar um livro é a hora de lavar os pratos"

Agatha Christie





COM DOZE GOTAS DA CHUVA DA MEIA-NOITE

MEUS OSSOS VÃO FICANDO MAIS SÁBIOS

POR QUE TENHO CIÚMES DE MINHAS PANELAS LAVADAS?

AH! QUE SENSAÇÃO DE ALÍVIO E VITÓRIA QUANDO VEJO A PIA LIMPA.

PRATOS LAVADOS

É UMA CONQUISTA DO CORAÇÃO!

(Poema de meu livro "O olho da lua procura" - livro que será editado em breve)

Amigos deixem seus comentários. Escrever é preciso!!!!!!

domingo, 7 de junho de 2009

UMA GALERIA DE MAMÍFERAS
“As criaturas de fora olhavam de um porco para um
homem, de um homem para um porco e de um porco
para um homem outra vez; mas já se tornara impossível
distinguir quem era homem, quem era porco.”
(Final do livro: “A Revolução dos Bichos” de George Orwell)

Detesto essas mamíferas galinhas!
Detesto esse entorno onde todas elas redemoinham
Rotundas
Volto até minha caneca de café e espano a cristaleira.
Essas putas velhas usam adereços ignóbeis;
/ colares de malfeitores de Nairóbi e Latim Vulgar.
São umas velhas que roubaram minha noite.
Elas sondam até a água de uma bilha
A bengaladas tange a um cachorro de rua, a primeira.
Elas me atraíram para bons ventos que não vieram
E deram sorte porque não soltei a onça que reside dentro de mim.
São as galinhas da cidade tomada.
Pensei que essas galináceas viveriam bem na sala do inferno.
Eu as tranquei e joguei a chave num bueiro do
/ Morro do Cabritinho.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

DEFORMAÇÕES DA MEMÓRIA



A VIDA DA POESIA ME PROTEGE.
A CHALEIRA CANTA AFINADA FAZENDO CHUVEIRAR O CÉU DA COZINHA.
A ARDÓSIA DE MINHA CASA ANTIGA
SUGERE ELEMENTOS DE SANGUE.
ESTOU ADORMECIDA NA PRAIA APAGANDO UM CAMINHO.
UM BÓCIO DE UM AMIGO DE INFÂNCIA PARECIA UM POMBO EM GUERRA, AQUI, AGORA, ME ENFRENTA.
O DIA CAIU
ESTOU PARADA NO PATAMAR
PARA DESCER TAMBÉM.

(Rosa Kapila)