quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

COSTAS CORCUNDAS CABELUDAS & DRINQUE MOLHADO
“Se calo, estou contemplando, se durmo, sou preguiçosa”
(Madre Teresa de Jesus )


Os quatro dragões de ouro
/da Tiradentes, rebrilham
no apagão.
Acho que só eu vejo, pois
/fugi do calor jogando o lençol
/pra cima.
Ah se eu tivesse os salmos como
/ofícios!
Escolheria meu melhor amigo: Salomão.
E não seria essa chapa rosa.
Pecaria bem
Porque no escuro eu peco melhor.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

CONVITE:
Estarei ministrando palestra
Sobre minha Literatura Infantil e Juvenil
No Colégio Municipal Maranhão, amanhã
Dia 03/12/2009, às 11 da manhã.
Av. João Ribeiro, 389 – Pilares – Rio/RJ
Fone: 2596 -9038
www.rosakapila.zip.net

sábado, 28 de novembro de 2009

UM OLHANDO UM & UM OLHANDO OS OUTROS
“O coração em paz vê festa em todas as aldeias”
(Provérbio índio )
Para meu amigo Edson Melo

Cavuco os segredos de meus armários escuros, porões
/e quartos silenciosos.
Qual labirinto obnublado foi esse que me deu todos
/os sabores?
Pedaços de informações para perder o medo de
/estar errada.
Vôo até Sêneca com seus dramas vingativos
/e seu beijo final em meio à bruma.
Quero ser estimulada pela novidade da
/experiência imediata.
Meu corpo-mamífero-humano de bilhões
/de anos vira pedaços do ser.
O sol passa por mim como uma visão
/e finge que não me vê.
Blake me oferece rosas coradas
/quando o fecho de minha bolsa prende
/minha mão.
A poesia é biológica, não tem jeito.
Meus neurônios gritam para meus tímpanos
Ansiedades
Nostalgias
Devaneios
Carne pensante, faça sua saudação
/àqueles que me lêem.

domingo, 22 de novembro de 2009

MOLHANDO O CAFÉ II
“Sou uma leitora obcecada. Sempre
que leio um livro tenho ideias que adapto
à minha vida”. (Rosa Kapila)


Salguei alguns livros para afastá-los
/das formigas... no decorrer de três meses,
/estavam molhados.
Agora, o sal insosso deixou os livros desminliguidos.
Mesmo assim, com o resultado caustrofóbico
/vou me arrastando até a fotografia de Deus, antes de
/salgá-la.
As traças não foram embora.Tampouco as formigas.
E nem as lagartixas.
Apenas os ratos odiaram o sal grosso.
Eu, ossuda, sem firmeza nos pés obnublados
/acompanho o vôo do pássaro cauteloso,
/no galho de um pé de graviola.
Estas cenas estão na peça que o Zé
/teatraliza.
Faço a vez da atriz com quem ele contracenará.
Deixo os pássaros fugirem floresta adentro.
Para desfazer o mal entendido ponho um gorro
/branco que um dia foi de meu filho Ícaro
/e escancho no cabo de vassoura...estou num cavalo
/que trota...
Zé pede para que eu requebre...
Acabo a cena sufocada. Há anos não faço teatro!
“Estou é quebrada”
Na casa desse meu amigo até os gatos
/são pintados
e tudo que chega ali vira peça de teatro.
No final do texto, dançamos ao som de
“Molhando o café”
Na verdade, molhados estavam os livros
Soltos os passarinhos
E as tanajuras passeando
Entre as lagartixas ariscas.
Rimos muito... até porque essa música
/é muito estranha...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PROCURO ESSE QUE TRAZ MEU CORAÇÃO COM ELE
“Há cordas no coração que melhor seria não fazê-las vibrar”
( Charles Dickens )
Para: Maria Aldenires de Sousa Lima

Procuro você que traz meu coração com ele
/para dizer que vi quando a onda beijou o pé grande
/do efebo... nem Pégaso nem Perseu quiseram
/meu marido ser.
No firmamento de sol ardido
Bato contra o céu o olho; com minhas asas, escrava-anjo-nua,
/peço para terem cuidado com a minha letra miúda
e digo para as estrelas escondidas que procuro esse
/que traz meu coração com ele para dizer-lhe
/que tenho uma casa feliz, de ninho voador e um urubu
/da floresta vizinha que me dá bom-dia: só às vezes.
Procuro você, que traz meu coração com ele
/concordando que me repito só para me ver;
/mas tem dia que desvio-me de mim. E sei, pois alguém
/já me disse que ar tenho de degenerada.
Fecho o livro sobre estrelas e penso em meu amor
/que domina meu ar de altivez.
Um grande amigo me pergunta: quando poderei
/aproveitar a experiência alheia em meu próprio
/benefício?
Não respondo, pois procuro você que traz meu coração
/com ele e sinto meu pensamento se entrelaçando
/no seu e a chorar lágrimas de céu morto e vermelho
/de fogo; vejo no subúrbio os andarilhos e comboieiros
/que mamãe seguiu.
Divago
Divagas
Devagar; pois continuo procurando você que traz
/meu coração com ele e teço encantos em olhos cor
/de sangue para usufruir de boca que embriaga
/suspiros de amor/olhos/sombra/noturnos febris.
Nesse exato momento tenho inveja dos pássaros que voejam
/ em minha janela; as asas sacudidas escondem de mim
/um pedaço de azul de céu.
Sou grata a eles que me trazem alegria e ideias novas.
Eles me escutam também; aqui onde sou uma forte
/exilada e designer de penhascos solitários.
Procuro você que traz meu coração com ele
/para dizer que coloquei em bolsa o meu passado bem
/amado e dou pra algumas águias que viajam pelo mundo
/afora um travor de meus antigos dramas; aqueles
/ódios que cobri com os lençóis.
Oh alma amada, será que a essas horas estás voando?
Ele me diria eu sei, cada livro é um combate
/e certeza tenho que és capaz de mudar a noite
/só para inventar nomes e rasgar.
Firmo e assino, alguns pensam constantemente que engolem
/o teu mundo; todavia quando todos dormem a viração
/se dá nos benditos sustos: cobra, lagartos, plantas
/carnívoras.
A Rosa dá o espinho que tem.
Lê pra teu anjo da guarda... lindo que nem tua sorte.
Flor do céu
Flor da terra
Quando estava sonhando com Deus, me acordaram
/para continuar procurando você que traz
/meu coração com ele.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

RUA DA CARIOCA
“Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!”
( Carlos Drummond de Andrade)
In poema: Nosso Tempo, do livro
“A Rosa do Povo”


As majestades viveram aqui onde a natureza
/já ficou velha e a morte morre muito mais.
As princesas, agora belas defuntas
/cavalgaram charretes e entre sombreiros
/farfalharam saias.
Antes, Rua do Piolho e após, do Egito.
Animou os dias de Machado jogando bola.
Ele foi criança e um dia usou calção.
Um quarteirão apenas para balançar bolsas.
Eu fujo
Tu foges
Dos ventos da Carioca.
Eu amo
Tu amas
E fervem os corações anônimos.
Vem, que a noite corre atrás de nós.
Aqui, namorados se enlaçam, se entrelaçam
/ e se dispensam.
Eu também já sofri de amor cariocando entre
/vendavais e trovoadas.
Chorei chuva e me atolei no cruzamento
/da Paraguai com a bifurcação da Rua do Verde de flores
/banhadas.
Livros/louças/bancos/correios e o Rei das Facas
/tem parede de oitão com as malas, malinhas, maletinhas,
/malão.
As árvores que se abraçam me abraçam enquanto
/estou amuada esperando o ônibus em frente ao Pilão
/de Pedra.
Elevo o olhar para o Monte Castelo
/e o Convento de Santo Antonio.
Lá vem a noite brigando com a noite.
Uma velha manca virando a noite na janela
/do sobrado pita um cigarro de macumba.
Apenas um quarteirão e cabe A Guitarra de Prata/ O Bar
/do Luiz/ O Cine Íris/ O Boteco Sinfonia Carioca/ O Cine
Ideal que Rui Barbosa abençoou/ O Pilão de Pedra que
/ um dia foi “Zicartola.”
E o primeiro Restaurante Vegetariano do Rio de Janeiro –
/paraíso dos naturebas.
Molambos entopem bueiros e quantos olhos morreram
/só ao te olhar.
Carioca, eu já caí na curva de tua lona!

sábado, 24 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

“MOLHANDO O CAFÉ I”
“Prazer maior que possuir uma biblioteca
é cavaquear sobre livros.”
(Charles Nodier )

Meu amigo Zé não vai à praia. Vai ao bar.
Enquanto como arroz branco com
/um montinho de ovos
/dou aquele grito mágico para que
/o Zé salve a Mãe-Terra e pense em sua salvação.
Ele faz o teatro: oh! Mundo/ ou Aurora!
“Me lembra querida que Cristo
/está me esperando!”
Gaiolas penduradas em sua casa
/me levam para cidades onde o acalanto
/ é gravado por pássaros de plumas vermelhas
É a nova peça do Zé.

domingo, 4 de outubro de 2009

A PEDRA NÃO SE MEXE, MAS O GERÂNIO A COMPREENDE
“Os poemas são ensinados como se o poeta tivesse guardado uma chave
/secreta em suas palavras e fosse trabalho do leitor encontrá-la.”
( Natalie Goldberg )
DEDICO ESTE POEMA A NATALIE GOLDBERG


A senha era um desenho na árvore: um caramujo com duas casas nas costas.
Havia às vezes uma ponte que cortava o mar ao meio.
O significado, perdemos de vista.
Os desenhos se foram
Os caramujos também
As nuvens de aves de arribação norteiam
/o fim de nosso caso.
Que importa agora esse relativo mal
/que só as hipérboles decifram bem.
Há cem anos um relâmpago passou por aqui
/ e foi comido pela árvore caramujada.
As visões
Os bisões
Os sons
Os clarões anunciados pelas chuvas de canivete
/mostram que a vida não é facilitada.
Sentir as culpas do corpo e mudar de senha
E mudar de criatura.
O bife frio brilha num prato de madeira.
E Átila, o Rei dos Hunos visita Laura de Petrarca.
É quando o paraíso está se abrindo que Beatriz
/aprende alguma coisa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

DE QUEM É ESTA SOMBRA? SERÁ MINHA?
“Nenhum pensamento mora de graça na cabeça de
ninguém - todos eles são investimentos ou custos.”
( Robert G. Allen )


Em um bolso do capote um sonho de Cortázar, amassado.
No outro duas maçãs meio cozidas. E no terceiro bolso,
/um maracujá esmaltado e cintilante.
Atravesso a Uruguaiana vigiando o andar do bêbado
/que discursa.
Ele se parece com Malcom X. Este também era desconfiado
/que nem eu. São dele as palavras: “Conheço todos os filósofos
/e não respeito nenhum.”
Malcom X, um homem de segredos.
Um homem de paixão.
Hermano Malcom, é inevitável perder de vez em quando...
O que te atraía no deserto das almas brancas?
Daqueles fugitivos que se tornaram “brancos” numa nova vida?
Numa nova biografia?
Eu também fui pega pelo número de destinos...
Sigo andando... já na Ouvidor, tive a epifania: o pé de unha-de-gato
/do tamanho de meu pai e o cajazeiro que quase trupicava no céu.
Gosto de sebereba de cajá vêm-me à boca
/com açucar... muito açucar branco!
Como era doce o meu açucar!
Agora é gotinha de stévia que deixa o meu café
/com sabor “remediado”
Muito desgostosa coloquei em meu Twitter que
/eu tinha morrido.
Não teve repercussão nenhuma. Pra vocês verem
/como sou desconhecida!
Eu choro na bula de meu remédio que é um lençol
/de grandeza.
Tem gente que diz: não leio esse troço que tu escreve.
O maior segredo do mundo: a inveja.
Pra você invejoso ( a ), vá procurar uma roupa pra
/lavar...
ou então vá arder no inferno que você mesmo criou.
Tomara que ele continue nessa maratona sem fim
/até chegar ao arco-íris.
Eu ainda vou sacudir minha capa vermelha
/nos cornos daquele argos.
Pediram-me para perdoar e orar por meu pior
/inimigo, morto há pouco tempo.
Eu respondi: Belzebu já está orando por ele.
UM MAR DE SAL GROSSO
“Arte é qualquer coisa que se possa empurrar”
( Marshall Mcluhan )
Poema de Rosa Kapila & Ícaro Planchêz


Colei a carne morta de meu dedo e
Acabei dando fim aos saltos das sandálias
/com meu serrote novo.
Ninguém me domina
/nem tu, oh corpo meu estranho!
Onde encontrarei um refúgio para fugir dessa
/consumição?
Encontrei colo na casca-veludo-de-pêssego.
Eu os comi sujos de poeira, pois o sumo de fruta
/é o molde que me acalma os nervos.
Lembro-me de um poeta que parafusou
/o mar e o concebeu de areia grossa.
Venha alimentar minha carcaça, eu sou Cornólio
/ diz o personagem na TV.
Um chá de velame me faria bem agora.
Por isso te guio, pernas e olhos tortos.
Há uns homens lá embaixo, com seus músculos
/que não valem nada.
Eu agora sou que nem meu amigo SKY
/só vou ao mundo virtual porque no mundo real
/ não há mais vida.
Espante-te essas palavras?
Pois é
Eu assino embaixo com “MARES”
Que em Latim é Maria,
/lembrando de Mamãe
E todos os seus Santos.

P.S. o poeta que parafusou o mar foi
Gerard Manley Hopkins

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

POÇA-PEDRA
“Oitenta por cento do sucesso está em aparecer”
(Woody Allen)

Aonde irei sem delirar pelo medo
/de que agora, aqui seja o lar dos ratos?
Lamento!
Deus sabe como as duras palavras
Boca-malvada
Boca-ferina
Boca-de-pedra...são terminais.
Eu queria um rochedo-santo para meditar.
Eu queria folhas verdinhas e pencas de banana.
Mas não...durmo ao pé da árvore e espanto
/uns urubus que fazem fila
uns urubus ignorantes! Que não entendem
/uma caneta tintando!
Como tenho saudades daquela garrafa de vidro
/verde de leite e outras saudades...
/enfim que não valem a pena enumerar.

domingo, 27 de setembro de 2009

A SOLIDÃO DOS ESCONDIDOS
“Um dia escreverei música para as pessoas
rezarem”
(Brian Wilson)

A confusa desordem das ruas e dos jornais
Me calam.
Vejo que os gatos se escondem de mim
/enquanto agoniada, construo meus silêncios
/que estão chegando...
um pássaro arreda para eu passar.
Trago na bolsa sementes para muitos pássaros
/que vivem a solidão dos escondidos.
Larguei num buraco rotundo
/aquele gostinho de inferno que tive
/em 26 de maio desse corrente ano.
Minha mão está em movimento...
Sinto-me como uma maratonista
Correndo atrás do universo e isto ilumina
/um dilema.
O mundo está cheio de palavras que choram
/para serem ditas.
Contudo têm coisas que não posso negociar
/comigo mesma.
Por esta razão vou ter que pegar dinheiro
/e palavras no meu cofre de guerra.
Essa introspecção mórbida e dúbia
/faz efeito.
Os outros perigos serão indicados
/brevemente.
Adianto que cortei o pé de urtiga.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS





DEFESA DE DISSERTAÇÃO



Área: Estudos Literários

Título: A cidade e os seres na contemporaneidade - A narrativa urbana de Rosa Kapila

Mestranda: Maria Aldenires de Sousa Lima

Banca: Profª Drª Maria do Socorro Rios Magalhães – UFPI (Presidente)

Profª Drª Constância Lima Duarte - UFMG ( Primeira Examinadora )

Prof. Dr. Sebastião Alves Teixeira Lopes - UFPI (Examinador)

Profª Drª Junia Regina de Faria Barreto – UFPI (Suplente )

Local: Sala de Audiovisual Newton Lopes

Dia: 25 de setembro de 2009

Horário: 10 Hs da manhã

(Na Universidade Federal do Piauí – em Teresina)

End: UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio

Portella – Bairro Ininga

Cep: 64.049 – 550

Mail: ufpinet@ufpi.br

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O BANHO RÁPIDO É MENOS BOM



SEMPRE RECORDO

EM ÁLBUNS ABERTOS

PASSADO

FOLHAS EM DEDOS LAMBIDOS

TELHAS QUEBRADAS FAZENDO RODELAS DE SOL NO CHÃO

UMA PERNA DE UMA FOTOGRAFIA

COM PELE MORENA ME ASSUSTA

E CÃES RODANDO EM LATAS PARA FAREJAR COMIDA

ENEVOAM MINHA MENTE.

O CAFÉ COM GOSTO DE BARATA

SE FAZ PRESENTE NA ESQUINA DE TRÊS PONTOS

DE ÔNIBUS

DE VAN

DE TREM.

UM ANJO QUE PISCA NA LOJA DE BRINQUEDO

ILUMINA O ABAJUR

E MEU CORPO QUE FALA EM NOME DE MINHA FIBRIOMIALGIA AVISA

SUAVEMENTE

QUE AGORA A DOR MORA NO PÉ

E QUE NO FIM DA NOITE CHEGARÁ AOS COSTADOS.

A FAMOSA DOR QUE ANDA

COMO UM MORCEGO FELPUDO AO REDOR DE PELES,

OUVIDOS E ESTRADAS DO CÉU DE BOCA.

A FAMOSA DOR QUE NOS FAZ CHEGAR

AO RABO DO INFERNO

OU BURACO DO INFERNO COMO DIRIA

HENRY MILLER.

A LUA BRANCA DE OVO

É UM CORPO MEU.

É O QUE SALVA.










Escrito por Rosa Kapila às 17h34
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UMA FAMÍLIA DE ALMAS

"Quantos olhos tem uma alma?"



EU AMO DIZER

TÔ DOIDA

MAS É SÓ NA OBSCURIDADE...

EM SUA PASSAGEM PARA A LUZ.

AS CASAS QUE TENHO DENTRO DE MIM

DEITAM-SE SOBRE O SOL.

QUANDO EVOCO MEU NASCIMENTO

PENSO QUE SEREI ADOTADA

POR UMA FAMÍLIA DE ALMAS.

NA CONFIGURAÇÃO DOS VIVOS

OCULTO-ME EM ORDEM MUTANTE

DORMINDO E DESPERTANDO

DORMINDO E DESPERTANDO

TOMANDO GARAPA EM ALAMBIQUE.

MAREJANDO OS OLHOS JUNTO AO MAR

CHUPA-SE PEDRA DE SAL.

VERSOS GRITANDO

NO SUBIR E DESCER DA MEMÓRIA.

O PEDAÇO DE BOLO DE MINHA INFÂNCIA

QUE ESTÁ VIVO, ME INTERESSA.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE

ESGÔTO

&

ESGÓTO?

APENAS UM ATO DRAMÁTICO

E O DESEJO DE CHEGAR.

APENAS VI: A TEMPESTADE ESTAVA DE BRANCO!

ERA A TEMPESTADE DE ROBERT DUNCAN

QUE ME ACENAVA EM MADUREIRA DE CHUVA.


Escrito por Rosa Kapila às 22h09
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CAINDO NA CHUVA NA GUARAPARI

"Não são nossos pés que nos transportam e sim nossas mentes"

Provérbio chinês



SURDOS PARA OS TROVÔES

FAZENDO OUVIDO DE MERCADOR

OS RELÂMPAGOS ME ALUMIAVAM

E OS TROVÔES EM PANCADARIA, BRIGANDO

QUERIAM QUE EU CUSPISSE MEU CORAÇÃO PELA BOCA

DE MEDO

PELA BOCA DA NOITE.

EU CHOREI COM MADUREIRA, VERDE, NA CHUVA.

É ASSIM QUE EU POSSO CONTINUAR CHORANDO PARA OS CÉUS?

LÁGRIMAS BANHANDO CHUVA.

UM GATO PERDIDO ME ATROPELA

ELE PARECE UMA PESSOA AMADA DE MINHA CASA.

FRANCISCO SANTOS DISTANTE

AGORA É SAN FRANCISCO

OU FRISCO, COM DIRIA KEROUAC

DE LEMBRANÇAS

DEUS!

É DIA!

PRECISO DE UMA NOVA IDÉIA

UMA NOVA IMAGEM

UM NOVO CAMINHO

PRECISO DE UM AROMA

DE UMA PALAVRA GREGA

É O MEU COSMO ORGÂNICO QUE CAI

E NADA ACONTECE

ENTRE O DEUS DE CIMA

E O QUE CHAMO NA LAMA

EU FICO COM A QUEDA.


Escrito por Rosa Kapila às 13h47
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UM ESCURO MUNDO



"GRIS" É UM NOME QUE ME AGRADA

COMO ME AFASTAM OUTROS:

"TRISTE" E "MELANCOLIA".

EM MEU QUARTO TINHA UMA LATADA PERTURBADORA

DE CHEIROS DE FLORES DE MARACUJÁS

RELUTO POR QUERER APAGAR

SEM NÚMERO DE COISAS.

FLOR JAMAIS SEREI.

E NO ESCURO QUERO AJEITAR A VELA QUEBRADA

SOPRO

ACENDO

QUEIMO O DEDO

NÃO POSSO DESISTIR DO ESCURO

E NEM DA VELA QUEBRADA

NÃO SÃO MEUS GOSTOS

SÃO UTENSÍLIOS

QUE PROVAM QUE A COMTEMPLAÇÃO

NÃO VALE

EM UM MUNDO ESCURO.


Escrito por Rosa Kapila às 11h31
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NA TUBADA



DESCI DA VAN NO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS: CAMERINO

AV: PASSOS

MARECHAL FLORIANO

SEGURO NA MÃO DE DEUS ATÉ A PRESIDENTE VARGAS COMO UM RELÂMPAGO

FUGINDO NA TEMPESTADE

JÁ QUE A VIDA É UMA ESTAÇÃO MAIS LONGA

PARA O ARREPENDIMENTO.

AS LÁGRIMAS RITUAIS

ESPELHAM UMA CONFUSÃO

DOS AMORES QUE NUNCA VIERAM

DOS AMORES QUE NUNCA FORAM.

BRAÇOS DE PREOCUPAÇÕES

PERNAS DE PREOCUPAÇÕES

ABANDONO A GRAÇA

UM HOMEM COM GORDURAS ME PEDE DINHEIRO

À FRENTE DO Mc DONALD'S

O SONO ME CHEGA

PRECISO ANDAR

PRECISO CORRER

SENÃO MEU SONO FOGE

SAIO NA TUBADA

CORTANDO SONO

CORTANDO FEBRE

CORTANDO CAMINHO DE GATO PRETO

CORTANDO GORDURAS DE HOMEM

QUE A AV. PASSOS ME ABRACE

E A IMPERATRIZ TAMBÉM.








Escrito por Rosa Kapila às 11h55
EU SEMPRE TIVE UM CORPO-CADERNO



AGARRADA A UM CADERNO DE ARAME

SINTO UMA VERTIGEM

QUE EU JULGAVA NÃO SABER.

O PÉ MEU DE ROSA DEIXA A MARCA

E PERFUMES FEITOS PRA MEU BEBÊ

FEITOS PRA ESSE AMOR.

SE DEUS DISSER-ME NÃO

MAIS UMA VEZ EU CHORO.

O CADERNO ESPIRALADO

É UM ABISMO.

EU ESCREVENDO NO TUBO DO VENTO

TONSURADO

SEM CHANCES DE NEGAR NOMES.

EU SEI FAZER OLHOS

EU SEI FAZER VERBOS

EU SEI FAZER CORAÇÕES

EU SEI FAZER LÍNGUAS

A PRECE DE MEUS JOELHOS

É TÃO PROFUNDA

QUE ASSUSTA O SILÊNCIO.

TEMOS O VÔO HOJE

TEMOS O VÔO HOJE

É A FALA DE MEU VIZINHO.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

STEVE JOBS
“Mesmo quando ralham comigo, tenho a minha quota de fama”
(Pietro Aretino – 1492-1556 )


Por que tanta ansiedade?
Com os analistas simbólicos e trabalhadores do conhecimento
Formando gerações de máquinas-inteligentes
Todos te mandam sinais para um futuro paraíso tecnológico
Parece que paramos de rezar pelo salvamento
Na Terra Prometida de leite e mel.
Vamos Steve...
Vamos civilizar as planícies de nossas almas...
/enquanto temos eletricidade e água para beber.
Como criar abundância de novos bens?
Como entender a duração do dia?
Seria a Ciência uma metáfora cósmica essencial...
/ou seremos como dizia Descartes, autômatos sem alma?
Nós nem acendemos mais fogo!
Oh mundo atormentado e dividido.
E lá vem Steve com a operação dilúvio!
Mesmo deitado Jobs têm muitas iluminações.
E quem tem ouvidos, ouve os espíritos falando.
Teria Steve Jobs
Uma vingança social a fazer?
Te aconselharia chá de alface orvalhado antes.
Fico pensando que nessas horas
Jobs está planejando o que vai acontecer
No futuro e anotando!
Quem nunca teve um guru
Que atire a primeira pedra.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Trecho de meu livro “Quando Mamãe Souber”
Estarei autografando-o no dia 15/09/09 às 11 hs.
Da manhã, na Bienal do Livro do Rio, no estande da
Ed. Ao Livro Técnico.
“Já era de noite quando levantamos da areia. A lua
estava linda, parei no descampado da praia para ficar
contemplando-a. Algumas nuvens corriam e outra menor
ficou debaixo da lua: tinha o formato de um porquinho.
Daí a pouco, como numa dança, o porco se desmanchou.
Olhei pro chão e já tinham roubado meus tênis. Nem sujos
Eles foram salvos. (Rosa Kapila)

sábado, 22 de agosto de 2009

QUANTO MAIS ELE AGUENTA ATÉ ENLOUQUECER?
“Aquele a quem não se consegue ensinar a voar, ensine-se
a cair mais depressa.”
( Friedrich Nietzsche )


Fecho o livro com as duas mãos
E ajusto minha sombra na janela
O real acontece na televisão...
/enquanto os pesadelos passeiam
/em minha sala de visitas.
Uma carambola azeda nessa tarde de sábado
/me faz feliz.
Tenho um osso agudo no palato
/que me enfraquece os nervos e não permite
/que minha língua repouse e nem passeie
dou-lhe uma lambida glutona
/a fim de gerar poesia ou mesmo uma lembrança
/antiga para chafurdar minha memória.
Hoje saí para comprar um serrote
/e cheguei com dois livros em cada mão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

CONTE MENTIRAS NOVAS
“O ser humano que tenta ser bom o tempo
/todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros
/que não são bons.
( Nicolau Maquiavel )


Não se iluda com as esperas: são todas vergonhosas.
E teus inimigos estão de ódio fervido dentro deles.
Senta-te no rochedo e com uma lapiseira invisível
/desenha a todos que te apunhalaram pelas costas
/com luva de pelica na mão.
Na sequência, picota um a um
E pede ao vento para que faça a distribuição
/das caras tortas/ dos dentes quebrados/ das omoplatas
/desconjuntadas/ das pernas balangando.
Não é vingança.
São apenas lugares tomados.
Em seguida, pede a um espírito que te suspenda do chão.
Depois da risca da cal, voe. FIM.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

TEMOS QUE SER UMA PLUMA PARA FLUTUARMOS ENTRE AS PESSOAS
“A prosa é o diurno, a poesia é a noite; se alimenta de monstros e símbolos,
é a linguagem das trevas e dos abismos. Não há grande romance, pois, que
em última instância não seja poesia”
( Ernesto Sabato )


Eu quase amo o retrato numerado
E as pernas cambotas
Mas a noite se encarregou de lavar tudo
Com uma chuva-dilúvio.
Este é um sumário de versificação de aço
/que precisa ser bem temperado.
E quanto mais sofre
Mais forte fica
De nada valeu o conselho: “temos que ser uma
/uma pluma para flutuarmos entre as pessoas”
e o mar da garça veio lamber suas pernas.
O mar também arrancou o latim da pedra
Como se arranca a escama de um peixe.
Os versos ficaram divididos e a gramática,
/voadora.
Isso demonstra que os sonhos estão desocupados.

sábado, 15 de agosto de 2009

EU SEMPRE QUIS FAZER POEMAS TOSCOS
“o processo de criação narrativa é a transformação
do demônio em tema.”
( Vargas Llosa )

Meus alunos dizem que não há mais nada
/para se gostar porque odeiam tudo.
Então eu percebo quando a angústia se instala
/na personagem.
Sinto certas saudades que dóem muito.
Saudade de me sentir bebé tomando leite
/numa garrafa verde
E de sapos peidando nos charcos de meus quintais.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SERÁ VOCÊ UM SER CITÁVEL?
“O escritor é tudo ao mesmo tempo: arquiteto,
\ chef francês, fazendeiro. E, ao mesmo, não é
\ nada disso.” (Natalie Goldberg )
Para: Kenard Kruel, que é uma amizade de brilhante
/sucesso e um grande ser citável.


Tive que desviar um rio para organizar minha filosofia de vida
Mas o curso de minha mente não posso mudar.
Trago aqui idéias enlatadas que serão lidas, esquecidas
/por aqueles que são ondas contrárias à mim:
/nos chocamos
/nos baixamos
/nos afastamos.
Algumas amizades que são brilhantes fracassos se “ondeiam”
/no espaço sideral.
Quem não quer deitar e rolar sobre seu nome?
Circulamos em órbitas diferentes
Que sorte!
Eu desaprovo os mal entendidos do tempo
Devorar o futuro e mais nada.

domingo, 19 de julho de 2009

QUERO SER UM DINOSSAURO
“Reverencio meu corpo, esta matéria
à qual estou confinado... Falo de mistérios!”
( Henry David Thoreau )


Preciso pendurar vírgulas
Porque a vida oferece muitas atividades úteis.
O que pode o mundo exterior saber do interior?
Queria fazer o poema como uma mola, sinfônico.
Às vezes me canso dos infindáveis jogos e disfarces das letras.
Fico pensando em algo mais forte... na trabalheira de
Einstein para juntar gravidade e eletromagnetismo.
Estou de saco cheio de:
Casa
Mesa
Lâmpada
Meu saleiro de madeira
Quero ser um dinossauro
Detesto essa consumição de lembrar e esquecer.

domingo, 12 de julho de 2009

ARRANCANDO AS ASAS DE MEU ANJO
“Jamais as profecias comunicam mensagens
agradáveis aos mortais”
( In: Oréstia, de Ésquilo )


Escrevi numa letra degenerada
Num verdadeiro périplo o receituário da
/angústia e pesquisas sobre o teórico da decepção.
Como um peixe em seu mar faço a recolha.
A desesperança deve servir para alguma finalidade
/criadora.
Bobagem...
Mas tenho curiosidade de ver algumas pessoas
/se alimentar...
Retorço as mãos como raízes e penso que o inferno
/deve ser bem mais agradável do que essa sensação.
Deixei uma vírgula, pendurada, de propósito.
Carreguei meu anjo para a pátria espiritual de Kafka.
Lá, eu arranquei suas asas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A POESIA NÃO TEVE UM ÚNICO SANTO
“Se há um inferno, eu encontrei-o, pois se não
está aqui, onde Diabo estará?”
(Fernando Pessoa)


Meu pensamento trágico descia pelo meu pé.
- Se você desistisse e entregasse os pontos, Rosa
Maria e deixasse de escrever!
Não quero desvendar esse “lugar antes.”
Quando foi que meu estilo literário tornou-se
/um comportamento?
A depressão, esse monstro da tarde, sempre aparece.
A noite, finalmente, chega-se a mim.
Olhei para o rosto oval, sem malícia.
Mas, parece, ele pisa tudo quanto ler.
E tal qual Santa Teresa D’Ávila emanei
/chispas de Amor.
Preferi comungar com Gary Snyder: “paz, guerra,
/religião, revolução, amor, não servem para nada.”
Sou um eu inútil para muita gente.
Dores ou prazeres, infernos, dão no mesmo.
Trêmula, fiquei acariciando o estado de Buda
/e delirando por uma perfeita iluminação.
Tive inveja de meu amigo Blanchot quando na rua
/escura ele olha pra cima e diz:
- Nasci ali.
Sei que não posso olhar pra cima duma janela
/ e dizer nasci ali... porque nem sei direito dizer
onde nasci.
- Ei! – grita meu amigo – que cara é essa?
Jamais eu vou querer que ele adivinhe meu
/pensamento trágico descido pelo pé... preferi
/sair com essa: “Nunca que na poesia alguém vai virar
/santo.”
- Pra que serve ser santo? Ou santa?
Não respondi, me sentia como uma Diaba
/dos infernos.
No fim da ladeira, eu gotejo.
Eu sou chuva.

sábado, 4 de julho de 2009

JOANA DARC TAMBÉM OUVIA VOZES
“Até os peixes não têm mais sossego na
casinha deles” (Rosa Kapila )
Para minha amiga Katia Castro pelo seu aniversário
Pra você, uma torta de maçã e um soneto, irmã!


Eu tinha medo daquele jardim
Um pé de flor num sapato de courão antiguinho rachado.
Gastura me dava, cada dia mais tensa e aflições novas
/chegando.
Olhava a senhora adubando a sua horta.
Eu tremo
Tu tremes
Ela treme.
Como testemunhas eu e as abelhas ébrias
/sussurrantes.
Aquele pé de flor no sapato encharcado de adubo
Me lembrava Edgar Allan Poe com seus contos
/de emparedamento.
Um dia a senhora me disse: “eu ouço vozes e minhas
/ervas eu colho dos sapatos.”
Eu sorri e disse ok vizinha depois eu pego uns pés
/de orégano.
“Tem pé de melhoral, também.”
Desci a ladeira bolada: Joana Darc também ouvia vozes.
Normalmente eu fico à janela até a hora em que
/a velha senhora delira.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

POEIRA DE OSSOS



A LUMINÁRIA ESTÁ FRACA

MAS EU SÓ QUERO QUE A LINGUAGEM REALIZE

AQUILO QUE SÓ A LINGUAGEM

PODE REALIZAR

OS INSTANTÂNEOS

AS RECRIAÇÕES DE UMA CENA

POESIA

DIZEM QUE É INÚTIL

MAS TÃO BOA!

MEUS DESCONJUNTADOS NERVOS

SINALIZAM MANOBRAS ESPECIAIS PARA MIM.

QUERO REGISTRAR MINHAS PEREGRINAÇÕES

EU SOU UMA BALADA ANÔNIMA

EU CONHEÇO UMA CIDADE

EU CONHEÇO UMA PRAÇA

UM MINUTO

UM DIA.

CASCAS DE OVOS ASSADAS

FORMAVAM MONTINHOS DE VITAMINAS PARECENDO POEIRA DE OSSOS

EM FORMA DE FORMIGUEIRO.

A LINGUAGEM RETUMBANTE

APLAUDE

É O BARULHO DA CIDADE

QUE BROTA.

JÁ PODEMOS PLANTAR PESSOAS.
AS MANGAS, AS MANGAS



MANGAS CONTRA O VENTO

AMARELAS... MORTAS

APANHO

A PENA CAÍDA

DE UM PÁSSARO

E COÇO A PERNA

COM UMAS PINTAS PRETAS

SERÁ CÂNCER?

SERÁ PANO BRANCO?

SERÁ VITILIGO?

NÃO, FOI UMA TARÂNTULA QUE POR AQUI PASSOU

EM BORA BORA.

ME ENFRONHO DE NOITE PARA ESCURECER OS OLHOS

E NÃO ENXERGAR O QUE É CLARO

E NÃO ENXERGAR AS PINTAS PRETAS.

TENHO MEDO QUE O MAIOR ÓRGÃO DO CORPO ( A PELE )

VIRE UM CAPOTE PINTADO.

APANHO AS MANGAS

QUE REBOLAM LADEIRA ABAIXO DE SANTA TERESA

MORTAS... AMASSADAS...

AMARELAS.
ESTRANHEI MINHA SURPRESA



UM PRONOME AMBÍGUO

ME INSPIRA OU FOI O SUBSTANTIVO?

E EU AINDA NÃO DISSE NADA

DE MINHAS AGONIAS E ALEGRIAS

QUERIA FALAR DE POEMAS CURTOS

DE TARDES INÚTEIS

AGORA EU TENHO MINHA FORMA E MEU ASSUNTO

E MINHAS REBELIÕES SEMPRE ESTÃO COMIGO

PERSONAGENS?

NÃO AS ABANDONO NO MEIO DO CAMINHO.

CARREGO UM EMARANHADO DE CAPIM EM MEUS CALCANHARES

EM ESCADAS DA IGREJA DA LAMPADOSA FAÇO HIGIENE.

DOIS POMBOS ME OBSERVAM E UM TERCEIRO VOA.

UM CURIOSO APARECE

E DIZ QUE TRADUZIU COMIGO "BOLA DE SEBO"

EM VOLTA REDONDA.

EU NÃO SEI COMO AGÜENTAR ESSA BREVE PARTE DE MIM:

ENTRE A SURPRESA E A VERGONHA

PREFIRO ME COMOVER.

LEMBRO APENAS QUE O APELIDO

DE MEU COLEGA ERA BAMBI.

AH SE MEUS CALCANHARES FOSSEM MÃOS!

EU OCULTARIA O DIA.
ESCREVENDO CARTAS NUM LAGUINHO DE LÓTUS



CRUZEI FACA E GARFO

PARA ATRAIR UM RITUAL DE BOM APETITE

E LOGO ADORMECI COM A CABEÇA DENTRO DO PRATO

PARA SONHAR COM UM CORREIO NOTURNO

DANDO BANHO EM CARTAS NUM LAGUINHO DE LÓTUS.

CORRO PARA A VARANDA E ALGUÉM COSPE

CAROÇO DE UVA DO APARTAMENTO DE CIMA.

SEMPRE ASSIM É

SÓ QUANDO DURMO COM O LIVRO DO JAPONÊS YASUNARI KAWABATA

NA CARA.

ELE FALA MUITO DE PÃES COM CARTAS.

EU FICO SACOLEJANTE

NA CAMA MAGRA

E PENSO EM UM LUGAR

QUE NÃO FICA EM PARTE ALGUMA.

KAWABATA ME IMPRESSIONA

COM UMA IDÉIA UNIVERSAL

SERÁ POSSÍVEL ABRIR AVENIDAS PARA NOVOS ESCRITORES?

COMEÇO A TRABALHAR EM FAZER VERBOS

COMO UMA DISCÍPULA.

TENHO PENA DAS COISAS VERDADEIRAMENTE TRISTES.
DOM PERTURBADOR



EU APRENDO COM OS INSETOS A TECER

A MOVER-ME INQUIETA

E NOS MOMENTOS ESTRANHOS

GORJEIOS CANÇÕES DE SONHOS

LEMBRO DE MIM OCULTANDO

O DIA

AMUADA

ESCONDENDO A SURPRESA E O MEDO DE SUPORTAR.

NINGUÉM MAIS ESTÁ FALTANDO

NA MINHA CONTA DA MADRUGADA

NINGUÉM MAIS ESTÁ FALTANDO

NEM OS ORIGINAIS DOS POETAS

NINGUÉM MAIS ESTÁ FALTANDO

NEM OS POETAS DA METADE.

APRENDO A TECER COM OS INSETOS

APRENDO A MORDER COM AS FERAS.

BREVES EXPERIÊNCIAS

ME FAZEM VER

A QUANTIDADE DA VIDA.

terça-feira, 30 de junho de 2009

FOME OCULTA
“Boca de mel,coração de fel”
( Provérbio Português )


Quebrei um ovo no meio do redemoinho
/de meu pirão.
Queria sustância para enfrentar
/o diabo que está sempre procurando
/alguém para devorar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O TEMPO, ESSE FORNO DE ASSAR ROSTO!
“As pessoas podem preencher o vazio com o que
quiserem imaginar”
( Steve Jobs )

Meus melhores dias já raiaram.
Aquele papo não me convence mais e nem
/as horas em círculos a girar.
Vagueio de corredor em corredor nesse meu prédio
/e da cobertura vejo os pobres miserando lá embaixo.
A massa a passar em paletós e capotes de inverno
/anunciam suas lutas.
Eu, testemunha como um anjo à espreita
Divago
Oscilo
Meneio.
Desço do prédio infrene no asfalto.
E, escutando um burburinho vou até a Riachuelo
Fazer um hemograma.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

BOILEAU-DESPRÉAUX: UM POETA IRRITADO
“Noites para dormir e dias para o ócio”
(Nicolas Boileau-Despréaux – 1636 -1711 )


Às vezes caminha-se pelo inferno com Dante.
O poema nos informa como chegou em tal buraco!
E como a gente se ferra.
Meu relógio me espera e minha lâmpada me ouve
/enquanto leio Henri Barbusse.
Ainda hoje, de manhã, trupiquei nos gatos de Baudelaire
/miando pro sol.
Uma moça magra, com um bolsão e um cintão
/pisa numa barata em fuga.
Enquanto o sol desperta a rosa, figuras me assustam
/nos jornais.
A lua já se escondeu do sol há muito tempo
/mas eu torço para que a noite volte logo, para que
/eu me conserve em paz sob o teto que me ilumina
/e saia dessa rua em tumulto.
Um clarão me avisa que vem chuva.
Meu amigo da banca me fala dos jornais: “só violência
/e sexo.”
E aquele caso: (...) “assim seja a tragédia, assim marche
/e se explique.”
P.S. o verso entre aspas é o final do poema “Da tragédia”
De Boileau Despréaux.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

MEUS OLHOS DORMEM SOB DUAS JANELAS DE VIDRO
E UMA GRADE DE PLÁSTICO
“O olho é a luz em repouso”
( Jim Morrison )


Desenhei um cacho de nuvens
A fim de transformar a paisagem
Num mundo mais suportável.
Meus olhos, vestidos de óculos acham tudo obnublado!
Vertigo!
Vejo “Um corpo que cai” no corujão e a olho nu
/não consigo decifrar os mistérios de Hitchcock.
O melhor sono é o da TV.
Os mistérios passam correndo, no escuro.
Meus olhos, entre duas janelinhas de vidro e
/uma grade de plástico, dormem.

terça-feira, 16 de junho de 2009

TEXTO TEMPORÁRIO PARA OBRIGAÇÕES OCULTAS
“Em meu ofício ou arte taciturna/ Exercido na noite silenciosa/
Quando somente a lua se enfurece/ E os amantes jazem no leito (...)
( Dylan Thomas )


Os fantasmas sentam nas cadeiras, apenas para me olhar...
E me respondem porque eu colo tanto em Deus.
Esta é para você, bebé, que anda com Jesus em volta do pescoço,
/mas só gosta de pedra porque pedra não se mexe.
Toda vez que penso em você
Eu fico cega
Como se estivesse na Caverna de Platão.
Estar com você é o nosso passado me empolgando
Por numerosas ilusões.

domingo, 14 de junho de 2009

FLOX

VOLTA-TE PARA TUA TERRA

PORQUE O TEMPO É IRRESPONSÁVEL

NEM TODO MUNDO QUER SABER DE BOAS VINDAS

TU COMO UMA MÁSCARA

ÉS PURA NAVEGAÇÃO

VIAJANTE CANSADA

AINDA TENS QUE APRENDER COMO SE PROTEGE UMA FLOX

ARRUMA-TE PARA O SEM NADA.

ESCUTA-TE.

AS LEMBRANÇAS SE ABREM QUE NEM MALA VELHA.


Escrito por Rosa Kapila às 13h25
BEIJO, MÁRIO DE ANDRADE



PENSO NAQUELE CAMINHO

QUE MINHA SOMBRA SEMPRE SE OLHA

FURIOSO

O VENTO TALHA MEU ROSTO

PARA QUE EU VEJA "UMA GOTA DE SANGUE EM CADA POEMA."

MEU PENSAMENTO SE TRANSFORMA NUM LEQUE DE SEDA JAPONESA

QUE EU CARREGAVA COM DONA GENEROSA PARA A MISSA DA IGREJA

DO BAIRRO VERMELHA NAS MANHÃS DE DOMINGO.

MAS AGORA EU ESTOU SOZINHA

EM UM DESERTO UIVANTE

TENHO QUE CORRRER

TENHO QUE CORRER

TENHO QUE CORRER


Escrito por Rosa Kapila às 13h20
ANA IVA

"Chove medo nas ruas."

(In: Colonia - de Carlos Drummond de Andrade )



MEU TEXTO ESTÁ GRITANDO

MAS É DE MEDO DO TÚNEL DO JOÁ

COM LÂMPADAS SOLITÁRIAS (UMA AQUI OUTRA ACOLÁ)

O CÔNCAVO-SINISTRO, ME ASFIXIA.

ANA IVA COM SUA PERÍCIA E CANSAÇO ACELERA - LEMBRANÇAS DAS BALAS QUE VOAVAM PELO CÉU.

E DIGO QUE VEJO UMA ÁRVORE APONTANDO NO FIM DO TÚNEL. NÃO É LUZ NÃO É NADA...

ANA IVA FAZ-ME LEMBRAR OS DESENHOS DA SENHORA ADÃO, DE LIVROS DE HISTÓRIA.

ELA TEM CARA DE MITOLOGIAS.

SE EVA TIVESSE BATIDO PERNAS APRECIANDO SAPATARIAS

A HISTÓRIA DO MUNDO SERIA OUTRA.

ANA IVA TEM A FIRMEZA DE ANNE PARILLAND NO FILME NIKITA

( A SURPRESA DO PULO DA GATA ).

NA PRAÇA SIBELIUS RESPIRAMOS.

A AUTO ESTRADA LAGOA-BARRA DÁ-NOS A SENSAÇÃO DE RENASCIMENTO PELA MEMÓRIA DA ÁGUA

DIA E NOITE SE ABRAÇANDO NAS ILUMINURAS.

ALI TAMBÉM O OLHO DA LUA PROCURA.

ESSA PAISAGEM EU ALUGUEI EM MINHA IMAGINAÇÃO.


Escrito por Rosa Kapila às 22h29
COMO UMA ESTRELA FORA DO CÉU
“alguma coisa em mim,deseja alguma coisa
que não sei” (Hilda Hilst)


Desço do trem uma parada além do destino
Como se procurasse alguém na ponta dos pés
/observo o campo estranho onde estou.
Como num sonho de Agatha Christie, vejo
/no sovaco de um homem “O doente imaginário”
/de Molière.
Se eu não fosse doida,eu seria doida, agora.
Me sinto solitária como um morcego voando
/pelas grutas de uma caverna.
Estou naquele lugar como uma estrela fora do céu.
Preciso dar uma forma para meu corpo
/e pegar um trem de volta.

sábado, 13 de junho de 2009

O OLHO DA LUA PROCURA

E eu vos direi "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama

pode ter ouvido

capaz de ouvir e de entender estrelas"

(Olavo Bilac - final do soneto "Ouvir Estrelas")



TODOS OS POETAS CONSTANTEMENTE EXPERIMENTAM

NOVAS OCORRÊNCIAS:

A TROCA DE TEMAS

A LIMITAÇÃO DE EXTRAIR FOGO DE PEDRA

O MATERIAL OCULTO DIANTE DOS OLHOS

O DESAFIO DA IMAGINAÇÃO

O SABER DE NÃO CONSEGUIR ESCREVER SOBRE QUALQUER COISA

PALAVRAS DESENCAIXADAS.

TODO POETA SABE:

QUE SONHAR COM O ASSUNTO

PODE SER APENAS UM APITO DE TREM DISTANTE.
CAMÕES, UMA ESTRELA INFELIZ
“Triste cidade! Eu temo que me avives
uma paixão defunta!” (Cesário Verde )


Eu não sou cheiro que se flor
E aqui está Camões me trazendo cheiros
De uma paixão defunta, no seu Lusíadas
/de”FERO AMOR” sobre Inês de Castro.
Eu, uma contemporânea que pertenço ao cotidiano
/de muita gente...frequentando a mesma praia, indo
/ao supermercado ou ao cinema... tenho a mesma sensação
de Cesário Verde em carta ao amigo Antonio de Macedo Papança
“Uma poesia minha, publicada numa folha bem impressa,
/comemorativa de Camões, não obteve um olhar, um sorriso,
/um desdém, uma observação! Ninguém escreveu, ninguém
/falou, nem um noticiário, nem uma conversa comigo, ninguém
/disse bem, ninguém disse mal! (...) literalmente parece que
Cesário Verde não existe”.
Eu, que tento fazer as pessoas pensarem sobre o mundo e a vida!
Vi o teu rosto desenhando num navio.
Ainda carrego em minha boca o cheiro do teu poema
/redivivo.
Tanto adiei minha poesia para outro século
Que hoje ela me deixou na mão, a ver navios!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A CALMARIA DO RIO PÓ
“Ao contrário da prosa, a escrita em versos
é uma surpresa a partir de uma ideia que vem de
outra parte” ( Gary Snyder )


Não me peçam pra ir embora... / pois meu corpo
/ é um rascunho que está sendo melhorado
por isso tento encontrar respostas incomuns
de associações longínquas.
Dizem que o branco é também cor de gótico.
Enquanto passeio nas alturas tento não vomitar
No negro
No branco
No colorido arco-íris
Nascido numa lagoa mas que poderia
/ter vindo de céus de Itália
do Rio Pó
Rio famoso de nascedouro de Línguas Portuguesas
De faíscas de Vesúvio e de lascas de Etna.
Até segunda ordem não mexam em meus papéis
De branco
De preto
De rosa.
SONHEI QUE PLATÃO ME TRAZIA UM CORAÇÃO VIVO



ESPERO UMA MENSAGEM

DESSAS DE MULTIDÕES

QUE DESENTRELACE

OS NÓS ATRASADOS DE UMA CILADA.

É O PROGRESSO QUE CORRE FEITO LOLA

ARVORADA

ALOPRADA

OU SÃO OS PISTOLEIROS SOLTOS?

UMA MENSAGEM RÓSEA.

UM MOMENTO PARA MEU OLHAR PARALÍTICO DESLUMBRAR

UM ÚNICO SOL QUE NÃO TREMA AO MEIO-DIA

ESPERO UMA MENSAGEM

DE SURPRESA

ASSIM COMO UM CORAÇÃO VIVO

ME TRAZIDO POR PLATÃO

ESPERO UMA MENSAGEM

COMO UM OLHO MECÂNICO

NO MEIO DA TESTA.
BLOSSOM

CHEGOU A HORA

LUZ E TREVA

ATEIO FOGO A UM VERSO

CELEBRO SÍMBOLOS E LIVROS

OH MEU CÉU DE CARNEIRINHOS

O CRISTO REDENTOR

FICOU AZUL, SOLTO ENTRE A BRUMA, SOZINHO, NO CÉU ME ASSUSTA

PASSO A FERRO AS MECHAS REBELDES DE MEU CABELO

ONDE ACABARIA A JORNADA?

AS MÃOS EM CONCHINHAS APARAM O RELÂMPAGO

COM UM MARTELO NA MÃO FAÇO TREMER O SOL.




Escrito por Rosa Kapila às 15h47
DESORDENS MENTAIS



"O melhor momento para planejar um livro é a hora de lavar os pratos"

Agatha Christie





COM DOZE GOTAS DA CHUVA DA MEIA-NOITE

MEUS OSSOS VÃO FICANDO MAIS SÁBIOS

POR QUE TENHO CIÚMES DE MINHAS PANELAS LAVADAS?

AH! QUE SENSAÇÃO DE ALÍVIO E VITÓRIA QUANDO VEJO A PIA LIMPA.

PRATOS LAVADOS

É UMA CONQUISTA DO CORAÇÃO!

(Poema de meu livro "O olho da lua procura" - livro que será editado em breve)

Amigos deixem seus comentários. Escrever é preciso!!!!!!

domingo, 7 de junho de 2009

UMA GALERIA DE MAMÍFERAS
“As criaturas de fora olhavam de um porco para um
homem, de um homem para um porco e de um porco
para um homem outra vez; mas já se tornara impossível
distinguir quem era homem, quem era porco.”
(Final do livro: “A Revolução dos Bichos” de George Orwell)

Detesto essas mamíferas galinhas!
Detesto esse entorno onde todas elas redemoinham
Rotundas
Volto até minha caneca de café e espano a cristaleira.
Essas putas velhas usam adereços ignóbeis;
/ colares de malfeitores de Nairóbi e Latim Vulgar.
São umas velhas que roubaram minha noite.
Elas sondam até a água de uma bilha
A bengaladas tange a um cachorro de rua, a primeira.
Elas me atraíram para bons ventos que não vieram
E deram sorte porque não soltei a onça que reside dentro de mim.
São as galinhas da cidade tomada.
Pensei que essas galináceas viveriam bem na sala do inferno.
Eu as tranquei e joguei a chave num bueiro do
/ Morro do Cabritinho.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

DEFORMAÇÕES DA MEMÓRIA



A VIDA DA POESIA ME PROTEGE.
A CHALEIRA CANTA AFINADA FAZENDO CHUVEIRAR O CÉU DA COZINHA.
A ARDÓSIA DE MINHA CASA ANTIGA
SUGERE ELEMENTOS DE SANGUE.
ESTOU ADORMECIDA NA PRAIA APAGANDO UM CAMINHO.
UM BÓCIO DE UM AMIGO DE INFÂNCIA PARECIA UM POMBO EM GUERRA, AQUI, AGORA, ME ENFRENTA.
O DIA CAIU
ESTOU PARADA NO PATAMAR
PARA DESCER TAMBÉM.

(Rosa Kapila)



segunda-feira, 27 de abril de 2009

LIMA À MEIA-NOITE

“Os livros têm o valor de consolação
para seus autores”
( Inês Pedrosa )


Agripina Pomar e nossa viagem ao Peru...
Caminhávamos pelas feiras improvisadas
E sentávamos à beira de rios... ficávamos horas
Vendo peixinhos mortos.
- Que foi? Uma vez perguntei.
- Uma recordação dos infernos!
Os pensamentos toscos chegam... guardo ainda
Minha bolsa amarela de poeira... atopetada de santinhos.
Nos apaixonamos por nosso guia de viagem...tiramos
Cara ou coroa com umas latas vazias.
Agripina ganhou o índio e o levou para países nórdicos
Aos quinze dias com o novo amor descobriu-o
Lambendo portões enferrujados e chupando fósforos.
Pobre índio com aquela locomotiva a desabençoar-lhe.
Deporta o jovem para sua visão do paraíso.
Hoje Agripina tem uma linda menina Pilar, filha de
/inglês...”mas com a cara redonda de sol do peruano”.
Agripina lua nova cheia de todos os anoiteceres do mundo...
Amarela flor de Portugal... com os cigarros amarrados à sua
Literatura de versos ligeiros como a velocidade da sombra
Correndo para preparar frases diabólicas.
Amiga, estou na carreira falando lendo devorando almas
Ocupada como o quê!
Mas nada de melancolia nem arrependimentos
Mesmo pelo estranho passado!
Seremos sempre fortes como a forja da faca:
- fogo
- água e
- pancada
Também somos um caco entre vários cacos de barro...
Tudo é uma questão de “sangre”
Buscai ao Senhor enquanto se pode achar.


(rosa kapila)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A PRECARIEDADE DA SORTE HUMANA


“estranho livro aquele que escreveste, artista
da saudade e do sofrer! Estranho livro aquele
em que puseste tudo o que eu sinto, sem
poder dizer” (Florbela Espanca)


Toda a carne que tenho distribuída testa
/abaixo, dói.
E, ainda dizem que forte sou.
Eu ando, eu corro, eu penso em aparar aquela luva
/perdida por um astronauta, no interplanetário.
Eu invento “a lógica dos possíveis narrativos” em lixo
/espacial.
O que me salva são os poetas de antigamente,
/que me fazem companhia.
Avalio encantadores frutos e mistérios de pessoas
/escondendo seus sabores.
Penso nos grãos de areia que juntei numa latinha
/de marrom glacê para recompensas dar-me
/em formas irreais.
Imagino treinar feituras de sonetos, saltos ornamentais
/em cachoeiras, fluxos de energia no Himalaia.
Penso muito na precariedade da sorte humana.
Lembro-me de um cajueiro velho de Pindamonhagaba.
Gosto de relembrar-me da casa do tio Bob de Pinda
/e nos moranguinhos que colhíamos pela estrada.

(rosa kapila)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

ENQUANTO PASSEIAM OS RATOS

“Já fico feliz de poder lidar com Lampião,
satanás e muitos outros, tudo no tempo que
/eu invento, às vezes com lógica, outras nem tanto”
(Alceu Valente )



Para minha amiga Agripina Pomar


Meus vizinhos são estranhos
/de religião nem se fala, tampouco de sinais de fogo.
Alguns deles terão o meu sotaque?
Seguro o meu caderno de espiral para jogar fora
/consoantes e vogais enquanto mastigo sementes
/de girassol pra cima e pra baixo no elevador.
Aqui, nesse elevador, estão alguns mistérios
/de meu medo.
Falei para um vizinho que o maior incêndio da
China foi causado por ratos que mastigaram os
/fios elétricos do prédio.
A goela do homem se inflou e com medo ele disse:
“lugares importantes se queimam...imagina!”
Fugi do elevador pela neblina
Cometerei versos assassinos e os despacharei com os
/cumprimentos dessa autora que agora sai
/para caçar os ratos...
Ratos em geral não falam mas deixam pistas.
Em minha sala de estudos couros comidos e flores esbeltas
/dormindo sobre o papaya verde que virou um túnel
/ e o capuz de meu capote escondia a aritmética
/de meu medo.


(rosa kapila)

O QUE HÁ DE QUENTE NO GELO?



“Para alcançar o conhecimento, adicione
coisas todos os dias. Para alcançar a sabedoria,
remova coisas todos os dias.”
( Lao-Tsé )


Às vezes eu gosto de pensar que os espíritos
/celestes vagam pelo firmamento
/acendendo as estrelas uma por uma...
É duro constatar que as estrelas estiveram ali
/o dia todo.
Minha vizinha, rosnando em frente ao elevador
/diz que é uma estrela!
Enquanto ela age assim eu dou uma viajada
/pelo céu preenchendo minhas lacunas.
O que é melancolia?
É a palavra mais abstrata que conheço...
Já me sinto pronta para devolver
/todas as sombras.
Deus! Dê-me uma virtude positiva para
/nela eu pensar...
Aguardo o vento que daqui a pouco
/vai passar por aqui...
Um morto conhecido se aproxima...
E se ele vir puxar o meu pé
/eu destruo o resto da alma dele.


(rosa kapila)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

OS PONTOS CEGOS DA CASA


“Os livrinhos têm o seu destino”
( Terenciano Mauro – século III d. C )



Hoje, a cor de meu poente de Teresina
/veio encontrar-me em curvas de pássaros
/no céu ambrósio.
Pensei em lendas
Pensei naqueles meus vizinhos que eram
/donos de um grande segredo.
Pensei nas sujeiras do texto
/e naqueles caras que costumavam pegar almas.
Quando a luz do sol apontava
/ eu tinha que levantar-me e agir.
A blusa da escola, alvinha
/os sapatos, pretinhos
/a saia, pregueadinha.
Meu pai às vezes tocava sanfona de madrugadinha.
E mamãe fazia chouriço...eu olhava aquilo
/quente e aguentava até onde podia aguentar...
/e dizia em meus pensamentos “de onde veio um
/ser para eu amar tanto?”
Os pontos cegos da casa eram noturnos.
As lendas!
/de mortos dependurados e jovens mortas
/atrás das portas.
E tinha um velho sem-vergonha numa esquina.

(edu planchêz)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

NO DIA EM QUE EU ECLIPSAR-ME

“Dou o nome de violência a uma audácia
em repouso apaixonada pelo perigo.”
( Jean Genet. In: Diário de um ladrão )


No dia em que eu eclipsar-me
Minha faca vai: cortar o fogo.
Virarei uma víbora com dentes iguais
/aos da onça que fuma em meu sonho.
No dia em que eu eclipsar-me
/vou dar portada na cara.
De sangue no olho
/vou queimar essa civilização de papel.
No dia em que eu eclipsar-me
/vou cortar teu couro tão bem cortado
/que nem Deus vai conseguir costurar.

(rosa kapila)

ALGUMAS DOBRAS DE MIM

“Acordo todo dia pensando em
como evitar as pessoas”
( Morrissey )


Você com sua cara de museu morto quer
/ o que todo fantasma quer: um corpo.
Tenho tédio nessa manhã doente.
Se dependesse desse dia de hoje, eu passaria
/a vida na cama.
Infelizmente esse dia se gasta e eu tenho que
/procurar outro novo.
Ah se eu tivesse aquele enorme e lindo jardim
/dos caminhos que se bifurcam...
Me interrompa se você já ouviu isso.
Cheiro o pé seco de planta...

estou esperando escurecer
/para jogar o estuque fora.
Enfio minha papelada num espeto,

para me dar descanso.
Esses fragmentos explodindo

em minha cabeça,
fazem com que eu pergunte

“quem não tem doença?”
Consulto meu espelho

toda vez que entro no banheiro.
Vou me sentar por aqui e ver os alemães
/morrerem no filme.
Preparo meu mosquiteiro para a segunda
/manhã do dia.
Alguém me grita!
Que merda querem comigo?


(rosa kapila)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

IMPULSOS INSUPORTÁVEIS

“Se um autor escrevesse
apenas para a sua época,
eu teria que quebrar

minha caneta e jogá-la fora.”
( Victo Hugo )


Nenhuma aula de literatura
Vai dar conta de todas as pessoas

dentro de nós.
Fui refugiar-me em Santa Teresa
Nessa boca-de-noite canhestra.
Parece que há mil anos morei por aqui.
Quando sinto impulsos insuportáveis
/este é meu caminho.
Vi numa roda de malhação de judas
O bisneto de Augusto dos Anjos e no bonde
/a bisneta de Cora Coralina
só me falta dar de cara

com os sobrinhos de Bandeira.
Num encontro ancestral estaria Paraíba/

Pernambuco / e Goiás.
Paulo dos Anjos vem me beijar

cheio de farinha de trigo...
Ele é o ator principal

da peça que se desenrola
No Largo dos Guimarães.
Ai minha Santa Teresa saudades tenho de ti.
Desço a Ladeira pela André Cavalcante,
/ rua em que morou Carmen Miranda.
Com um pedaço de pau

afugento os cachorros...
Só então me recordo do sonho...

uma onça roubava /
os cigarros de Ícaro
e fumava tirando onda
/com minha cara.
Com “a neura”

do sonho voltei para as escadarias
/e subi no bonde que apontava.
Hoje não é meu dia
Eu detesto Hoje.
Eu quero matar/sangrar/

retalhar o dia de Hoje.
Hoje eu sou Anne Sexton

naquele poema-pesadelo
“A mulher do fazendeiro”:
“(...) e ela o desejava aleijado

ou poeta, ou ainda
/mais solitário,ou, às vezes,

melhor, meu amado morto.”
(rosa kapila)

sexta-feira, 20 de março de 2009

A OBRA VIVE DE SUA VIDA

“En la lucha de clases/ todas las armas/
son buenas/ piedras/ noches/poemas”
( Paulo Leminski )


Minha rede invisível me balança/
e meu poema-surdo, envelhece.
Meu coração está quebrado /
como o mármore do açúcar que acoberta o bolo...
por onde formigas felizes sobem e descem.

Cheiro a noite igual Jean-Baptiste Grenouille
de“O Perfume”.
Mas são minhas mãos que enxergam tudo...
E lá vou eu...cansada de meus irmãos Karamazov.
Minha doença me deixa intoxicada
em minha própria dor.
Meu ouvido pensante me diz:
eu gosto de doença
mas não gosto de remédio.

(rosa kapila)

POEMA ANOITEADO

“Quando eu crescer, vou morar /num monte de quartos grandes”
( Greta Garbo)

Daqui de casa quando escrevo/
meus poemas anoiteados/
sinto o cheiro do mar depois dos prédios

E fico com saudades de algumas/
conversas impossíveis.
Eu tenho que dormir
Mas estou tomada pelo medo dos mosquitos.
A dor nas costas é a pedra no sapato.
Uma talhada de melancia/
me tiraria dessa noite à toa/
e uma moranga com camarão/
seriam o que estou procurando agora.
Mas acho numa ruma de livros
“Sermão do Fogo” de Gautama

E continuo procurando o mundo/
de onde vem a poesia/
essa proteína complexa/
que me vitamina.

Quero um poema expresso/
quente pegando fogo/
quero o templo de Shiva/
dos cosmos de Walt Whitman.

Quero as Massas de Charles
Movendo-se
Movendo-se
Movendo-se

(Rosa Kapila)

HOJE SAÍ DISFARÇADA DE AGHATA CHRISTIE


“Aproveite os sucessos, mas estude os fracassos”( Paul Brunton )

Amanteguei o pão-canoaE, escanchada num tamborete alto,
/ diante do café branco e preto/
não sei o que procurar diante/
dessa lâmpada leitosa.
Olhei as facas na sacola do pedreiro.
Cortar com a própria letra seria/
uma obra perfeita.
Por essas e tantas outras idéias/
hoje saí disfarçada de Aghata Christie.

Na Praça Tiradentes “O come miolo”
de Teresina era uma aparição em meu caminho.
Lá vem o demônio de Dostoievsky “voando”
numa folha de jornal...
numa rua-vogal este satanás é aquele/
que deixou “a turma do porão”/
por 24 anos sem ver a luz do dia.
Talvez ele seja torrado 10 vezes
numa câmara de gás/ pelos austríacos.
Eu não escreveria aqui nesse caderno /
o nome daquele bibelô de cemitério.
É melhor que ele fique boiando na zona do agrião.

(Rosa Kapila)

domingo, 15 de março de 2009

QUAL O SENTIDO DOS DIAS SEM ESCRITA?

“O homem, sem nenhum apoio
e sem socorro algum,está condenado a todo instante a inventar o homem”(Jean-Paul Sartre. In: O Existencialismo é um Humanismo)

Para: Claudia e Wander Lourenço

Nesses dias pinto ovos e boto o poema /
no quarador de meu estendal.
Gosto também de assistir aquela família amarela/
na TV.Em Niterói estou com uma disposição danada/
para entrar em crise.
Todavia fiquei parada diante de um out door/
de um tigre de papel.Recuei.Minha vontade é:
- fugir dessa vulgaridade infernal- rugir- maldizer
a Terra toda.Suando...
como esse tigre molhado por uma nuvem /
chuveirando, lembro de meus amigos mortos e /
daqueles que mato agora.
Mato a todos que fingem/
que nunca existi.
Fiquei com o rim exposto à falta de deles.
Conquanto não guardo herança de abandono.
Luís Melodia cantou tão alto que beijei a pedra:
“sou forte feito cobra coral”
Investi toda a intensidade de meu desejo/
em poesia...
E lá vem Roland Barthes colocar azedume /
no cogito: na verdade, o que há “é a crise/
do amor pela Língua”Tudo é maya.
“Os negócios” atrapalham minha depressão/
é o vendaval do que não presta que me ataca.
É melhor mundiar por aí.
Ou subir na palmeira selvagem de Faulkner.

(rosa kapila)