quarta-feira, 17 de setembro de 2014

tangerina de ouro



(POEMA DE ROSA KAPILA)
TANGERINA DE OURO
Tenho saudades de beijos de carne
Não ouvi Anne Sexton
Tampouco Shakespeare.
Beijos de boca para o vinagre.
Com muito silêncio penso na “Casa de Irene”.
Tu que és errante e tens a bicada do abutre no peito, chora.
Não sabia, porém boca faz falta.
Vejo da janela a colisão de urubus. Se bicam? Se beijam.
Lampejos.
Chupo uma tangerina cor de ouro e penso na varandinha
/ que nunca ganhou uma grade. Era ali que eu mordia tua boca.
Uma emenda: pego as Espumas Flutuantes de Castro Alves
/entretanto quem me tira acidez da vida é Camões – beijo
/ As Líricas.
Aqui faço mais uma emenda
Vultos me seguem na Rua da Alfândega. Olho os
/bustos para disfarçar.
Pergunto com pernas trêmulas: por que tantos vivos
/ se foram tão perto um do outro?
Não respondo.
Não posso responder.
Pulo da tangerina para a acerola.
Sento em um bar ainda da Alfândega.
Pão de queijo !!!!!!!!!!
Por que não me   lembrei  antes?
Acerola com pão de queijo
Pego um guardanapo, desenho besteiras  enquanto
/ segue a procissão de mortos.
Voltei  pela Ouvidor
Queria andar mais.
Estaria aberto o Campo de Santana?
Olho os gerânios, o sol, uns relógios, pérolas do colar
/ de uma senhora, as almas que tentam se esconder,
/a loja só de perfumes, cabelos, limões vendidos,
/beijos de namorados.
Ouço ao longe uma canção de Bob Dylan.