(POEMA DE ROSA KAPILA)
TANGERINA DE OURO
Tenho saudades de beijos de carne
Não ouvi Anne Sexton
Tampouco Shakespeare.
Beijos de boca para o vinagre.
Com muito silêncio penso na “Casa de
Irene”.
Tu que és errante e tens a bicada do
abutre no peito, chora.
Não sabia, porém boca faz falta.
Vejo da janela a colisão de urubus.
Se bicam? Se beijam.
Lampejos.
Chupo uma tangerina cor de ouro e
penso na varandinha
/ que nunca ganhou uma grade. Era ali
que eu mordia tua boca.
Uma emenda: pego as Espumas
Flutuantes de Castro Alves
/entretanto quem me tira acidez da
vida é Camões – beijo
/ As Líricas.
Aqui faço mais uma emenda
Vultos me seguem na Rua da Alfândega.
Olho os
/bustos para disfarçar.
Pergunto com pernas trêmulas: por que
tantos vivos
/ se foram tão perto um do outro?
Não respondo.
Não posso responder.
Pulo da tangerina para a acerola.
Sento em um bar ainda da Alfândega.
Pão de queijo !!!!!!!!!!
Por que não me lembrei
antes?
Acerola com pão de queijo
Pego um guardanapo, desenho besteiras
enquanto
/ segue a procissão de mortos.
Voltei pela Ouvidor
Queria andar mais.
Estaria aberto o Campo de Santana?
Olho os gerânios, o sol, uns
relógios, pérolas do colar
/ de uma senhora, as almas que tentam
se esconder,
/a loja só de perfumes, cabelos,
limões vendidos,
/beijos de namorados.
Ouço ao longe uma canção de Bob
Dylan.