sábado, 28 de novembro de 2009

UM OLHANDO UM & UM OLHANDO OS OUTROS
“O coração em paz vê festa em todas as aldeias”
(Provérbio índio )
Para meu amigo Edson Melo

Cavuco os segredos de meus armários escuros, porões
/e quartos silenciosos.
Qual labirinto obnublado foi esse que me deu todos
/os sabores?
Pedaços de informações para perder o medo de
/estar errada.
Vôo até Sêneca com seus dramas vingativos
/e seu beijo final em meio à bruma.
Quero ser estimulada pela novidade da
/experiência imediata.
Meu corpo-mamífero-humano de bilhões
/de anos vira pedaços do ser.
O sol passa por mim como uma visão
/e finge que não me vê.
Blake me oferece rosas coradas
/quando o fecho de minha bolsa prende
/minha mão.
A poesia é biológica, não tem jeito.
Meus neurônios gritam para meus tímpanos
Ansiedades
Nostalgias
Devaneios
Carne pensante, faça sua saudação
/àqueles que me lêem.

domingo, 22 de novembro de 2009

MOLHANDO O CAFÉ II
“Sou uma leitora obcecada. Sempre
que leio um livro tenho ideias que adapto
à minha vida”. (Rosa Kapila)


Salguei alguns livros para afastá-los
/das formigas... no decorrer de três meses,
/estavam molhados.
Agora, o sal insosso deixou os livros desminliguidos.
Mesmo assim, com o resultado caustrofóbico
/vou me arrastando até a fotografia de Deus, antes de
/salgá-la.
As traças não foram embora.Tampouco as formigas.
E nem as lagartixas.
Apenas os ratos odiaram o sal grosso.
Eu, ossuda, sem firmeza nos pés obnublados
/acompanho o vôo do pássaro cauteloso,
/no galho de um pé de graviola.
Estas cenas estão na peça que o Zé
/teatraliza.
Faço a vez da atriz com quem ele contracenará.
Deixo os pássaros fugirem floresta adentro.
Para desfazer o mal entendido ponho um gorro
/branco que um dia foi de meu filho Ícaro
/e escancho no cabo de vassoura...estou num cavalo
/que trota...
Zé pede para que eu requebre...
Acabo a cena sufocada. Há anos não faço teatro!
“Estou é quebrada”
Na casa desse meu amigo até os gatos
/são pintados
e tudo que chega ali vira peça de teatro.
No final do texto, dançamos ao som de
“Molhando o café”
Na verdade, molhados estavam os livros
Soltos os passarinhos
E as tanajuras passeando
Entre as lagartixas ariscas.
Rimos muito... até porque essa música
/é muito estranha...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

PROCURO ESSE QUE TRAZ MEU CORAÇÃO COM ELE
“Há cordas no coração que melhor seria não fazê-las vibrar”
( Charles Dickens )
Para: Maria Aldenires de Sousa Lima

Procuro você que traz meu coração com ele
/para dizer que vi quando a onda beijou o pé grande
/do efebo... nem Pégaso nem Perseu quiseram
/meu marido ser.
No firmamento de sol ardido
Bato contra o céu o olho; com minhas asas, escrava-anjo-nua,
/peço para terem cuidado com a minha letra miúda
e digo para as estrelas escondidas que procuro esse
/que traz meu coração com ele para dizer-lhe
/que tenho uma casa feliz, de ninho voador e um urubu
/da floresta vizinha que me dá bom-dia: só às vezes.
Procuro você, que traz meu coração com ele
/concordando que me repito só para me ver;
/mas tem dia que desvio-me de mim. E sei, pois alguém
/já me disse que ar tenho de degenerada.
Fecho o livro sobre estrelas e penso em meu amor
/que domina meu ar de altivez.
Um grande amigo me pergunta: quando poderei
/aproveitar a experiência alheia em meu próprio
/benefício?
Não respondo, pois procuro você que traz meu coração
/com ele e sinto meu pensamento se entrelaçando
/no seu e a chorar lágrimas de céu morto e vermelho
/de fogo; vejo no subúrbio os andarilhos e comboieiros
/que mamãe seguiu.
Divago
Divagas
Devagar; pois continuo procurando você que traz
/meu coração com ele e teço encantos em olhos cor
/de sangue para usufruir de boca que embriaga
/suspiros de amor/olhos/sombra/noturnos febris.
Nesse exato momento tenho inveja dos pássaros que voejam
/ em minha janela; as asas sacudidas escondem de mim
/um pedaço de azul de céu.
Sou grata a eles que me trazem alegria e ideias novas.
Eles me escutam também; aqui onde sou uma forte
/exilada e designer de penhascos solitários.
Procuro você que traz meu coração com ele
/para dizer que coloquei em bolsa o meu passado bem
/amado e dou pra algumas águias que viajam pelo mundo
/afora um travor de meus antigos dramas; aqueles
/ódios que cobri com os lençóis.
Oh alma amada, será que a essas horas estás voando?
Ele me diria eu sei, cada livro é um combate
/e certeza tenho que és capaz de mudar a noite
/só para inventar nomes e rasgar.
Firmo e assino, alguns pensam constantemente que engolem
/o teu mundo; todavia quando todos dormem a viração
/se dá nos benditos sustos: cobra, lagartos, plantas
/carnívoras.
A Rosa dá o espinho que tem.
Lê pra teu anjo da guarda... lindo que nem tua sorte.
Flor do céu
Flor da terra
Quando estava sonhando com Deus, me acordaram
/para continuar procurando você que traz
/meu coração com ele.