quarta-feira, 28 de outubro de 2009

RUA DA CARIOCA
“Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!”
( Carlos Drummond de Andrade)
In poema: Nosso Tempo, do livro
“A Rosa do Povo”


As majestades viveram aqui onde a natureza
/já ficou velha e a morte morre muito mais.
As princesas, agora belas defuntas
/cavalgaram charretes e entre sombreiros
/farfalharam saias.
Antes, Rua do Piolho e após, do Egito.
Animou os dias de Machado jogando bola.
Ele foi criança e um dia usou calção.
Um quarteirão apenas para balançar bolsas.
Eu fujo
Tu foges
Dos ventos da Carioca.
Eu amo
Tu amas
E fervem os corações anônimos.
Vem, que a noite corre atrás de nós.
Aqui, namorados se enlaçam, se entrelaçam
/ e se dispensam.
Eu também já sofri de amor cariocando entre
/vendavais e trovoadas.
Chorei chuva e me atolei no cruzamento
/da Paraguai com a bifurcação da Rua do Verde de flores
/banhadas.
Livros/louças/bancos/correios e o Rei das Facas
/tem parede de oitão com as malas, malinhas, maletinhas,
/malão.
As árvores que se abraçam me abraçam enquanto
/estou amuada esperando o ônibus em frente ao Pilão
/de Pedra.
Elevo o olhar para o Monte Castelo
/e o Convento de Santo Antonio.
Lá vem a noite brigando com a noite.
Uma velha manca virando a noite na janela
/do sobrado pita um cigarro de macumba.
Apenas um quarteirão e cabe A Guitarra de Prata/ O Bar
/do Luiz/ O Cine Íris/ O Boteco Sinfonia Carioca/ O Cine
Ideal que Rui Barbosa abençoou/ O Pilão de Pedra que
/ um dia foi “Zicartola.”
E o primeiro Restaurante Vegetariano do Rio de Janeiro –
/paraíso dos naturebas.
Molambos entopem bueiros e quantos olhos morreram
/só ao te olhar.
Carioca, eu já caí na curva de tua lona!

sábado, 24 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

“MOLHANDO O CAFÉ I”
“Prazer maior que possuir uma biblioteca
é cavaquear sobre livros.”
(Charles Nodier )

Meu amigo Zé não vai à praia. Vai ao bar.
Enquanto como arroz branco com
/um montinho de ovos
/dou aquele grito mágico para que
/o Zé salve a Mãe-Terra e pense em sua salvação.
Ele faz o teatro: oh! Mundo/ ou Aurora!
“Me lembra querida que Cristo
/está me esperando!”
Gaiolas penduradas em sua casa
/me levam para cidades onde o acalanto
/ é gravado por pássaros de plumas vermelhas
É a nova peça do Zé.

domingo, 4 de outubro de 2009

A PEDRA NÃO SE MEXE, MAS O GERÂNIO A COMPREENDE
“Os poemas são ensinados como se o poeta tivesse guardado uma chave
/secreta em suas palavras e fosse trabalho do leitor encontrá-la.”
( Natalie Goldberg )
DEDICO ESTE POEMA A NATALIE GOLDBERG


A senha era um desenho na árvore: um caramujo com duas casas nas costas.
Havia às vezes uma ponte que cortava o mar ao meio.
O significado, perdemos de vista.
Os desenhos se foram
Os caramujos também
As nuvens de aves de arribação norteiam
/o fim de nosso caso.
Que importa agora esse relativo mal
/que só as hipérboles decifram bem.
Há cem anos um relâmpago passou por aqui
/ e foi comido pela árvore caramujada.
As visões
Os bisões
Os sons
Os clarões anunciados pelas chuvas de canivete
/mostram que a vida não é facilitada.
Sentir as culpas do corpo e mudar de senha
E mudar de criatura.
O bife frio brilha num prato de madeira.
E Átila, o Rei dos Hunos visita Laura de Petrarca.
É quando o paraíso está se abrindo que Beatriz
/aprende alguma coisa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

DE QUEM É ESTA SOMBRA? SERÁ MINHA?
“Nenhum pensamento mora de graça na cabeça de
ninguém - todos eles são investimentos ou custos.”
( Robert G. Allen )


Em um bolso do capote um sonho de Cortázar, amassado.
No outro duas maçãs meio cozidas. E no terceiro bolso,
/um maracujá esmaltado e cintilante.
Atravesso a Uruguaiana vigiando o andar do bêbado
/que discursa.
Ele se parece com Malcom X. Este também era desconfiado
/que nem eu. São dele as palavras: “Conheço todos os filósofos
/e não respeito nenhum.”
Malcom X, um homem de segredos.
Um homem de paixão.
Hermano Malcom, é inevitável perder de vez em quando...
O que te atraía no deserto das almas brancas?
Daqueles fugitivos que se tornaram “brancos” numa nova vida?
Numa nova biografia?
Eu também fui pega pelo número de destinos...
Sigo andando... já na Ouvidor, tive a epifania: o pé de unha-de-gato
/do tamanho de meu pai e o cajazeiro que quase trupicava no céu.
Gosto de sebereba de cajá vêm-me à boca
/com açucar... muito açucar branco!
Como era doce o meu açucar!
Agora é gotinha de stévia que deixa o meu café
/com sabor “remediado”
Muito desgostosa coloquei em meu Twitter que
/eu tinha morrido.
Não teve repercussão nenhuma. Pra vocês verem
/como sou desconhecida!
Eu choro na bula de meu remédio que é um lençol
/de grandeza.
Tem gente que diz: não leio esse troço que tu escreve.
O maior segredo do mundo: a inveja.
Pra você invejoso ( a ), vá procurar uma roupa pra
/lavar...
ou então vá arder no inferno que você mesmo criou.
Tomara que ele continue nessa maratona sem fim
/até chegar ao arco-íris.
Eu ainda vou sacudir minha capa vermelha
/nos cornos daquele argos.
Pediram-me para perdoar e orar por meu pior
/inimigo, morto há pouco tempo.
Eu respondi: Belzebu já está orando por ele.
UM MAR DE SAL GROSSO
“Arte é qualquer coisa que se possa empurrar”
( Marshall Mcluhan )
Poema de Rosa Kapila & Ícaro Planchêz


Colei a carne morta de meu dedo e
Acabei dando fim aos saltos das sandálias
/com meu serrote novo.
Ninguém me domina
/nem tu, oh corpo meu estranho!
Onde encontrarei um refúgio para fugir dessa
/consumição?
Encontrei colo na casca-veludo-de-pêssego.
Eu os comi sujos de poeira, pois o sumo de fruta
/é o molde que me acalma os nervos.
Lembro-me de um poeta que parafusou
/o mar e o concebeu de areia grossa.
Venha alimentar minha carcaça, eu sou Cornólio
/ diz o personagem na TV.
Um chá de velame me faria bem agora.
Por isso te guio, pernas e olhos tortos.
Há uns homens lá embaixo, com seus músculos
/que não valem nada.
Eu agora sou que nem meu amigo SKY
/só vou ao mundo virtual porque no mundo real
/ não há mais vida.
Espante-te essas palavras?
Pois é
Eu assino embaixo com “MARES”
Que em Latim é Maria,
/lembrando de Mamãe
E todos os seus Santos.

P.S. o poeta que parafusou o mar foi
Gerard Manley Hopkins