terça-feira, 28 de setembro de 2010

ATRAVESSAR O CÉU TODO
“Por que Deus não fala comigo? Se Ele pelo menos tossisse”
( Woody Allen )
Para minha avó Emily – pérola dos países gelados

Que noite horrível...
Já pela manhã, bem na hora em que a lua voltava pro céu,
/tenho a sensação de estar caindo; parece que meu sangue coalha nos pés...
Estou sozinha em casa e, meu ser flutua, mas há um empuxo
/ na cama que cola meu corpo no estrado.
Vejo passos em minha direção; quero largar as coisas. E por que não posso?
Toda noite, as verdades do dia acabam.
E pensam que tenho nervos de aço.
Não quero ter pesadelos para reiniciar meus novos livros.
Tenho pendor pelas coisas erradas, entretanto queria ter um cachorro
/para abraçar e gostaria de começar uma espantosa aventura; pensar
/mais em irrealidades.
Só me sinto feliz porque adoro o que não presta.
Poderia até planejar uma perseguição amorosa.
Queria uma amizade agitada com cauda de serpente
/e fígado amargo.
Três vezes já velei eu mesma (...) me olhava no caixão
/e conversava com alguns amigos, sorrindo. Eu estava rindo
/de minha morte. Só nessa hora sou duas, mas tenho muita preguiça
/para morrer.
O sol tem suas razões e o dia suas agruras.
Peço ajuda ao destino, fruthos negociáveis e pães cruzinhos.
Dobro um papel que é um céu desenhado por mim
/mas o pensamento não cola
Tudo é falso, mesmo com a cola polar da infância.
O que me dará o dia de hoje?

É tudo tipo futebol: olho no relógio e mão no coração – uma pintura.
Talvez eu seja ignorada pela noite e ela, de malvada me deixa a ver navios.
Tento fazer minhas costuras, não concentro. Olho as Torres do Casarão
Do Visconde do olho seco e um pouquinho mais longe o castelo dos bombeiros.
Uma alma chega perto de mim e procura conversar
/não lhe faço festa como desejaria.
Não costuro
Não recebo ninguém cortesmente.
Só sei amassar pedra.
Meu corpo, de carne e osso dorme longe.
Alguém me conta um segredo que me abisma.
Procurar amor, cansa.
Ter amor, cansa muito mais.
Gosto de esquecimentos e se eu fosse Fernando P., descansaria de nada.
Quantos estratagemas inventei (...)
Quero que o meu tédio me beije de vez.

domingo, 26 de setembro de 2010

POEMA DE RUBENS EDUARDO FERREIRA FRIAS
Rosa dos tempos


Tudo converge
num ponto único
distantes do A
longe do Ômega

Momentos passados
apenas falácias.
Borges reinventa a vida
em secretos milagres
labirintos da memória

Sempre sobre o pó
indestrutível, enamorado
Em novas nuvens mutáveis
jogos infinitos renascem
no mistério de todas as Galáxias

Aqui estou: só e repleto
de tuas pétalas, estrelas
incandescentes, suaves,
minhas manhãs e meus lençóis


Rubens Eduardo

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LOVE E-MAIL
"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar".
Carlos Drummond de Andrade
Para Rubens, o muso


Tiro um cisco do dente e beijo minhas cutículas
enquanto as mordo
são comidas?
não
são cuspidas.
Tem hora que sou a maior surpresa pra mim mesma.
Corro para pegar meu ócio no laço.
Oh mar passageiro, venha aqui, me beijar.
Eu sei caro leitor tudo meu é fragmentado
minha estante tem um buraco onde eu maloco
Anne Sexton.
Fiquei com vergonha do espelho, esse ingrato que
me olha... e as paredes, raspei para plantar pregos.
Ainda escrevo cartas, escondidas, enquanto olho a fileira
de sapatos debaixo da cama.
Eu, que nem Garcia Lorca tenho medo do rosto dos sapatos...
mas olho meio que de cara fechada.
Hoje peguei minha vitrola que me acompanha há séculos...
amaciei e parodiei Jimi Hendrix:
- meu marido foi embora com minha melhor amiga. Sinto falta dela.
Tenho dez relógios me espetando os ouvidos. Não ouço a blindagem
da guitarra de Hendrix.
Quero encurralar palavras que me ferem.
Lá vem uma porta fechada mais uma mais uma mais uma
mais uma
Detesto porta fechada
Prefiro os espelhos vivos dos banheiros sem portas.
Amanhã pela manhã vem o sol pelo avesso me brilhar.
Daqui a pouco meus livros dormirão e a lâmpada me dará té logo.
Queria ser um ghost mas isso é um achado já perdido.
Vou fazer trabalho de agulha, como diria Machado de Assis em
"A Causa Secreta".
Vou passar em revista o mapa de Buenos Aires e, tentar
dormir deitada.

sábado, 11 de setembro de 2010

11/09/2010

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OLHANDO UM PIANO SEM MÚSICA

"As amizades reatadas requerem maiores cuidados que aquelas

que nunca foram rompidas" ( François de La Rochefoucauld )

Para meus amigos do orkut, do twitter, do scribd e para todos

os sebeiros do mundo.



Descongelo a comida numa noite de sábado sem visitas.

Passo na Riachuelo e tenho vontade de entrar num bar de bebuns

mijando no canto da parede.

Os cachorros olham e olham

os gatos se coçam.

Não estou nem aí pra tanta desgraceira.

Eu sou quase uma lady e não posso fazer nada.

Procuro um remédio que me deite; pois estou em pé

por seis dias.

Não quero saber de canalha

de canalha basta eu.

Não acerto contas com dores.

Encontrei minha horta quase morta porque ninguém a orvalhou

e ela diz que somos irmãs e que a afinidade nos une.

Dou uns passos em curvas falsas

tanta procura me entontece

penso em costas

penso em pernas

penso em pés massageados por mim

magra, aguentando peso macio

teu corpo é um gigante em meus braços de pandora.

Vocábulos andando ao léu me chupam pelo bueiro.

Adubaram minha veia com cloreto de sódio

vejo meus dedos tremelicando... tirem-me desse hospital

estudo todas as paredes com olhar de fúria

quero sair daqui

mapa, corpo vazio demais sem querer um voo

Uma roda de caminhão

E nada

Enferma

Eu

Casco de vida.






Escrito por Rosa Kapila às 14h35
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