quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

SE FECHO OS OLHOS

SE FECHO OS OLHOS FICA DE NOITE (POEMA DE ROSA KAPILA)


Olho a chuva de minha janela do quarto.
Um lençol de nuvens escuras cobre o Cristo Redentor
Como a chuva é linda.
Se não fossem as velhas fadigas...
Eu quero a boca do paraíso.
Vi um bicho pulando com seu terceiro pé
/depois, ele salta em cima de vidro pisado
Sempre fui iludida pelos mitos.
Sofri.
As línguas dos mares me deixam esbodegada
Avanço... arrastando-me
O bicho voa.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Eu vejo,disse o cego

                    EU  VEJO, DISSE O CEGO     (POEMA DE ROSA KAPILA)

PROCURO PALAVRAS
NA SEMI-COLA
QUE NUNCA ANDARAM JUNTAS
PORQUE AS PESSOAS TÊM SEUS ENREDOS...
E NÃO HÁ HISTÓRIA QUE CONSIGA
DAR CONTA DE TANTOS TEMAS
SE EU SOUBESSE O QUE DIRIA O POEMA, NÃO
PRECISARIA ESCREVÊ-LO.
SE  UM VENCEDOR   NUNCA FOGE
UM FUJÃO NUNCA VENCE.
NA CINELÂNDIA  MONTINHOS DE FOLHAS
CHUTADAS, PISADAS, CUSPIDAS, AMASSADAS, BAILAM
ENQUANTO BATO PAPO
COM UM  MENDIGO COM DUAS RODELAS CORTADAS NA CALÇA, NO BUMBUM...
FIQUEI SENTADA EM FRENTE AO  AMARELINHO POR DUAS HORAS
OLHANDO  QUEM FAZ NADA.
NEBULAS NOS OLHOS.
TOMO A SECO UM ANADOR
ARMADILHAS DE UMBERTO ECO
NO  "DIÁRIO MÍNIMO".
SEIS  CEGOS E O ELEFANTE.
UM DOS CEGOS, BATENDO COM SEU CAJADO
EM   CIMA DE MEU SAPATO TUM TUM TUM
ME DIZ: "EU VEJO".
ENTRAR NO ESPELHO
ESTAREI NUM MUNDO QUE DEU ERRADO?
PASSEI PELA RUA MANUEL DE CARVALHO
E MATUTEI: O NOME DE MEU AVÔ.
EM PLENA CINELÂNDIA.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

MONÓLOGO DE DIDIER



MONÓLOGO DE DIDIER (POEMA DE ROSA KAPILA)
Vou te contar porque não bebi água em tua casa
/o teu filtro com água imantada é uma fraude
De noite a Lua vem e coloca uma água   clorada nele.
E a Lua tem a torneira quebrada.
Você conhece as pessoas bacia?
- “Não”.
São pessoas rasas,tem até uma presidente
Que é bacia,mas não tão rasa.
E a Isabel do lixo?
-“Também não conheço”.
Uma tal de Princesa Isabel.
Você sabe que a família real me persegue
/todo dia. Eles colocam gafanhotos,piolho de cobra
/escorpiões e outros bichos em minha frente.
Você ouve minhas novidades?
Eu sou carpinteira, ganho dinheiro com minhas ferramentas.
Eu vivo no mercado da morte
Eu sou da esquerda.
Um dia eu fiz poemas de amor
/que nem essas besteiras que você escreve
Mandei fazer uma caixa de lata para eu
/ficar no Metrô  ganhando dinheiro.
Obs: Didier é minha amiga há 15 anos.







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Tudo nos diz adeus

POEMA de Rosa Kapila
“TUDO NOS DIZ ADEUS, TUDO NOS DEIXA”
TENHO QUE RELER ALGUNS LIVROS.
EU JÁ ENCAREI MEU MAIOR DEMÔNIO.
ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO E SUA PERGUNTA:
“ QUEM SONHOU ISSO?”
TENHO QUE RELER HERÁCLITO, O OBSCURO.
ASSIM DIZ PLOTINO:
“ A TARDE ELEMENTAL RONDA A CASA”.
A DE ONTEM,A DE HOJE, A QUE NÃO PASSA
IGNORANTE AMOR, A IRONIA, O DESEJO DE SER.
ESTOU FOLHEANDO NESSE MOMENTO
OS DIVERSOS LIVROS QUE NÃO ESCREVI
TENHO VÁRIAS IDENTIDADES:
SEMPRE ESPREITANDO SEM SER VISTA,
IGUAL UMA MALA VAZIA GUARDADA
EM UM ARMÁRIO, ESPERANDO SER ENCHIDA.
POR FIM , CHOREI PARA O PODER SUPERIOR.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Rosa de vinho



“ROSAS DE VINHO! ABRI O CÁLICE AVINHADO” (POEMA DE ROSA KAPILA)
Kapila virou Copila ou Capela
Passei trinta anos para aprender o nome
/de minha amiga Jacquelinei
Não me importo...olho a água cor de azeite
O tempo vira
Uma consumição
Agoniei na Pedra do Arpoador e vomitei
/no sal do mar
Em Teresina se fala “doente dos nervos”
Mas vejo o doce pôr do sol
Oara me socorreu
Mais vinte anos
Para meu amigo Dublinului
Cinco taças de vinho
Produzem imensa lágrima.