A TERCEIRA COR DO GATO
“Os gatos. Os gatos sim são loucos. Insones. Boêmios.
Transtornados de desejo. Rasgando as madrugadas com gritos delirantes de amor.”
M. M. Soriano
Para Ana Patrícia Rameiro
Mal consegui chegar ao fim da noite para sonhar. Já em
Paraty me pergunto: a mulher só pode nascer de uma outra mulher que não seja
sua mãe? Minha alma é nobre, eu tenho tédio. Em Paraty, nesta FLIP de 2011
observei que os espíritos criativos se suportam. Minha necessidade de ganhar
dinheiro fez com que eu me acostumasse ao trabalho. O labore é humano,demasiado
humano. Tenho fome, mas não fica claro de que exatamente seria essa fome.
Aperto umas ameixas secas na mão,largo-as pela beirada do Rio Perequê-Açu para
as Formigas que me dão bom dia comerem. Peço a mim mesma para não perder-me em
minha euforia. Lembro-me da primeira frase do filme “ O PSICOPATA AMERICANO”:
“abandona toda esperança,tu que entras aqui”. Paraty é uma saída emoldurada
para mim.E é de minha querida Madonna que usurpo a frase.”: a vida é um
mistério,todos devem ficar sós. O Rio Perequê me eleva, sinto uma
autoconsciência.Cadê as respostas que tanto quero? Elas estão chegando. Estou
treinando minhas narrativas. Meu querido Novalis, para onde vamos? Sempre para
casa.Mas o Hostel Casa do Rio é o Éden.
Havia anos que eu não via o sol nascer. Às seis da manhã eu sentava numa
cadeira de praia, metia minha mãozinha no Rio e conversava com o sol. Parece
que vejo sinais de que sendo COLPORTAGEM eu consiga continuar inventando minha
ficção. Felicidade chama-se estranhos prazeres. Eu acho que sempre estive na
pista de toda espécie de loucura. Paz é tudo.Alma minha indócil, já pensou ter
olhos de Liz Taylor?E ter os músculos banhados de ouro como Angelina Jolie em
“Beowulf?” No frio de Paraty estou dentro de duas calças compridas e o sol se
deslumbra comigo.Aquela estrada no mar deve ser para um navio muito bom. Sopro
abelhas. Respirei com a mão na água do rio que passa no Hostel. Em momentos
menos pesados eu pensei ser “As Flores do Mal” Ou então princesa de alguma
nuvem. Aqui eu não tenho fumos de cozinha. Cedinho vejo a mesa farta de um café
que é um banquete. Não faço nada, nem minha cama. Princesa total. Eu quero
fazer mundos e idéias. Compro umas tangerinas
mágicas, sem trabalheira para comê-las. Tive um namorado que se chamava
Jack e eu o chamava “o loucuro”. Um dia
eu o levei a minha morada. Não ficou sem
fazer nada. Ando muito em Paraty,sem
fazer nada. Gosto do enorme bem que o mundo me oferece. Quanto mais profundo o
sono,melhor o prazer. Um astro peregrino me clareia o sono. Os mortos de meus sonhos dançam sem parar. Meu tempo de
amar me parece muito curto e me inspira muitos ais! Minha profissão é
materializar meus sonhos. Outrossim tive um sonho terrível em Paraty – perdia
meu passaporte. Quase perdi o final da semana
com receio de que o sonho fosse verdade. Alguém queria ele. A inveja
corrói a podridão de nossos ossos. Ainda penso que formigas na janela me dão
bom dia. Tenho lembranças castradoras.Aquele amor que na boca da noite
trazia-me flores amarelas caiu aos solavancos. Tenho idas e vindas para
fazer.Calangos param ararinhas a fim de ouvi-las. Subterrâneos eram esgotos de
ratos – amigas, sou deles. Fui a um lugar com muitas árvores, corri, brinquei
com muitos bichos. Até ensaiei ser corredora. Dei umas dez voltas pela beirada
do mar, pavões, cachorros e cutias
cantam para mim. AMOR PERDIDO É INACHÁVEL. Tantos volteios,
tantas cintas liga,beijos de roubos. A carne crua do amado, eu pintava e fazia
mochilas de ir para a Bolívia. Prefiro me suavizar; peneirar as pepitas de
ouro em meu tacho de latão. Ouço, brigo, falo. O mundo
foi embora, o mundo vai embora para
sempre.Soluços para dentro. Regurgitamento de polvos,bichos nojentos. Podia ter trazido livros para lê-los. Chegando aí,
eu canto, dormindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário