quinta-feira, 9 de julho de 2009

A POESIA NÃO TEVE UM ÚNICO SANTO
“Se há um inferno, eu encontrei-o, pois se não
está aqui, onde Diabo estará?”
(Fernando Pessoa)


Meu pensamento trágico descia pelo meu pé.
- Se você desistisse e entregasse os pontos, Rosa
Maria e deixasse de escrever!
Não quero desvendar esse “lugar antes.”
Quando foi que meu estilo literário tornou-se
/um comportamento?
A depressão, esse monstro da tarde, sempre aparece.
A noite, finalmente, chega-se a mim.
Olhei para o rosto oval, sem malícia.
Mas, parece, ele pisa tudo quanto ler.
E tal qual Santa Teresa D’Ávila emanei
/chispas de Amor.
Preferi comungar com Gary Snyder: “paz, guerra,
/religião, revolução, amor, não servem para nada.”
Sou um eu inútil para muita gente.
Dores ou prazeres, infernos, dão no mesmo.
Trêmula, fiquei acariciando o estado de Buda
/e delirando por uma perfeita iluminação.
Tive inveja de meu amigo Blanchot quando na rua
/escura ele olha pra cima e diz:
- Nasci ali.
Sei que não posso olhar pra cima duma janela
/ e dizer nasci ali... porque nem sei direito dizer
onde nasci.
- Ei! – grita meu amigo – que cara é essa?
Jamais eu vou querer que ele adivinhe meu
/pensamento trágico descido pelo pé... preferi
/sair com essa: “Nunca que na poesia alguém vai virar
/santo.”
- Pra que serve ser santo? Ou santa?
Não respondi, me sentia como uma Diaba
/dos infernos.
No fim da ladeira, eu gotejo.
Eu sou chuva.

Um comentário:

  1. Rosita ... porque parar ...? e "o sentido dos dias sem a escrita"? Nós queremos, precisamos ... e vc tb! Eu não quero iluminações, nem depressão, nem dor (se não for necessária). Mas se tiver que doer a gente mergulha logo fundo nisso, porque depois emergimos com mais esperança, até o resto da dor que ficou, líquida e grudada no corpo, se exponha a um sol bem agressivo e seque ... pra gente nascer de novo. E escreva feito maluco outra vez ... Adoro você!
    Ana Patrícia

    ResponderExcluir