Rosa Kapila -
No
dia em que se encerrava o milênio, havia um burburinho tão grande no
apartamento de Marcéu (ele morava no apartamento debaixo do meu) que
eu chorei de saudades do Arpoador..
Em frente a nosso prédio estavam estacionadas cinco motos e três carros. Eu e meu filho novamente extasiados à janela. Um rapaz com a cara de Rimbaud gargalhava. Eu pensei: aqui é o país de Baudelaire. Marcéu - a mistura poética de mar e céu poderia ser Marcel Proust e Baudelaire já estava ali sentado ao sol.
Meus amigos e meu médico não gostavam daquela estranha criatura mas eu me deliciava com a ira que ele causava no prédio. Também não queria ser amiga de Marcéu mas descobri que ele não possuía uma cabeça imperfeita e não escondia nenhum defeito debaixo do boné. Eu sabia que ele despertava em mim um re-ligare e varria meu tédio.
Um belo dia houve um embalo na casa de Marcéu. Voou garrafa pra todos os lados e uma chuva de meias e cuecas banhou o pátio do prédio. Queriam matá-lo. Fiquei quieta e minha admiração não diminuiu. Às vezes às três horas da manhã ouço Marcéu chegando e saindo porque ele chega e sai, sai e chega e ninguém controla suas diabruras porque Marcéu nasceu para viver flotando por aí.
A última vez que vi Marcéu, tenho certeza que ele olhou um rosto imóvel tentando se amalgamar a um lance de escada ou mesmo querendo fugir do inesperado.
ROSA KAPILA
Em frente a nosso prédio estavam estacionadas cinco motos e três carros. Eu e meu filho novamente extasiados à janela. Um rapaz com a cara de Rimbaud gargalhava. Eu pensei: aqui é o país de Baudelaire. Marcéu - a mistura poética de mar e céu poderia ser Marcel Proust e Baudelaire já estava ali sentado ao sol.
Meus amigos e meu médico não gostavam daquela estranha criatura mas eu me deliciava com a ira que ele causava no prédio. Também não queria ser amiga de Marcéu mas descobri que ele não possuía uma cabeça imperfeita e não escondia nenhum defeito debaixo do boné. Eu sabia que ele despertava em mim um re-ligare e varria meu tédio.
Um belo dia houve um embalo na casa de Marcéu. Voou garrafa pra todos os lados e uma chuva de meias e cuecas banhou o pátio do prédio. Queriam matá-lo. Fiquei quieta e minha admiração não diminuiu. Às vezes às três horas da manhã ouço Marcéu chegando e saindo porque ele chega e sai, sai e chega e ninguém controla suas diabruras porque Marcéu nasceu para viver flotando por aí.
A última vez que vi Marcéu, tenho certeza que ele olhou um rosto imóvel tentando se amalgamar a um lance de escada ou mesmo querendo fugir do inesperado.
ROSA KAPILA
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