sábado, 16 de abril de 2011

Rosa Maria dos Santos nasceu na cidade
de Francisco Santos, no Piauí, dia 30 de agosto
de 1952, indo morar no Rio de Janeiro, em 1974,
aos 22 anos de idade.


Os contos dessa antologia têm como ponto de
partida o desencontro e as contradições do jogo
amoroso, a solidão, a incomunicabilidade, temas
caros a Rosa Kapila, que participa da coletânea
organizada por Esdras do Nascimento com o conto
Mar de vidro. O livro tem a proposta lúdica de ter
contada duas vezes a mesma história, por um
escritor e uma escritora, sob o olhar masculino e
feminino. Rosa Maria dos Santos escreveu Mar de
vidro em parceria com Júlio César Monteiro
Martins.

A partir de 1989, passa a adotar o sobrenome
indiano Kapila, retirando-o do bestiário fantástico
do Livro dos seres imaginários, do escritor
argentino Jorge Luís Borges. É professora e doutora
em literatura brasileira.


O OBJETO DE ESTUDO

O estudo realizado neste recorte da
obra deRosa Kapila, a partir de sua
narrativa contemporânea situada nas
décadas de 1980 e 1990, é composto
por contos de duas de suas
publicações –Baião de dois(1983): Da
cor daquele céu e Sessão das quatro;
ePrimeiro manuscrito das tentações(1997): Gata morcega, Mar de vidro,
Nas estações de Bruxelas e Primeiro
manuscrito das tentações.


A escolha desse corpusse estabeleceu por esses
contos configurarem uma espécie de
microcosmo literário, em que certas constantes
surgem para formar um todo que estrutura sua
escrita com regularidade de elementos: o
espaço urbano das grandes cidades; as relações
amorosas especialmente conturbadas entre
homens e mulheres; a incapacidade ou
impossibilidade do ser humano, imerso nos
espaços das cidades e dominado por sua
atmosfera de eterno movimento, em criar
relações duradouras, transparentes; a
inconstância do desejo; a instabilidade e
mobilidade dos personagens, numa metáfora
das suas variações e descentramentos internos.

AESCOLHADOCORPUS


O contemporâneo
e as relações de gênero

O TEMA


PERGUNTAS NORTEADORAS

1) De que maneira a narrativa de Kapila
se situa dentro da narrativa de temática
urbana e contemporânea, considerando
seus antecedentes e determinantes
históricos?
2) Quais os elementos em sua narrativa
que definem a composição de seus
personagens como característicos da
contemporaneidade?
3) De que forma a sua narrativa constrói
as relações humanas no espaço da
cidade, marcadamente as relações de
gênero no mundo contemporâneo e pós-
moderno?


ANÁLISE E REFERENCIAL TEÓRICO

1.Situamos o contexto da prosa de ficção brasileira fazendo emergir as
características e temáticas dessa narrativa, colocando lado a lado um recorte das
narrativas brasileiras de temática urbana, visualizando as mudanças políticas e
sociais que ocorreram nos anos de 1960 e 1970, marcadamente no período de
ditadura militar, e suas influências na produção cultural das décadas de 1980 e
1990: as narrativas de resistência e as narrativas da desilusão urbana. (HOHLFELDT,
BOSI, PÓLVORA, FRANCO, REIS; RIDENTI; MOTTA).


Duas visões de mundo: “um abismo instalou-se no
Brasil entre essas duas vertentes, micro e
macropolítica, num conflito inegociável que causou
muito sofrimento àqueles que traziam em sua
subjetividade a necessidade da luta em ambas as
frentes, por uma questão vital.” (ROLNIK, 2007, p.15).
A contracultura: o comportamento, a música, o
cinema, as artes plásticas, a televisão.
“Estas experiências micropolíticas deslocariam não
apenas a noção de poder –comumente articulada às
idéias de direito (Hobbes) e de violência (Marx) e
confinada à sua condição de apêndice do Estado –,
como fariam inserir o próprio corpo humano no rol
dos instrumentos políticos.” (CASTELO BRANCO,
2005, p. 53-54).
A discussão de conceitos como o de pós-
modernidade, sua aceitação ou não pelos teóricos
aqui referidos, Jameson, Hutcheon, Berman,
contribuem para os cenários no qual foi gerada a
produção literária contemporânea e, com ela, seus
traços distintivos, sua gestação e surgimento, suas
rupturas e contiguidades.


2.Abordamos, a partir dos contos de Kapila, o universo
social e cultural da cidade e de seus personagens, com
a caracterização do espaço urbano contemporâneo,
sua representação e relação com os sujeitos ficcionais,
em que os indivíduos operam o mundo complexo da
cidade, no espaço de integração e desordem da rua,
relativamente aos aspectos do nomadismo, os
processos de desterritorialização e a articulação dos
sujeitos, especialmente as mulheres, nos espaços das
cidades. (MAFFESOLI, SEVCENKO, HALL, ROLNIK,
SILVERMAN).
Nesse universo, os sujeitos estão quase sempre em
trânsito: a pé, de ônibus, trem ou avião, numa
apreensão do espaço como deslocamento. Daí, sua
funcionalidade e organicidade, tratadas como
metáforas das inquietações internas de seus
personagens.


3.Estabelecemos uma espécie de
confluência do material histórico e
literário referenciados nos capítulos
anteriores, dimensionando na história e
no espaço contemporâneo das cidades a
figura feminina que emerge da narrativa
de Rosa Kapila.

A construção dos personagens
femininos de Kapila a partir das noções
de identidade em diferentes épocas e à
luz das interpretações de
descentramento e deslocamento do
sujeito na sociedade pós-moderna,
considerando as concepções de sujeito
e as perspectivas de deslocamento da
subjetividade; o descentramento do
sujeito feminino em sua prosa ficcional
e as relações entre gêneros, em
fronteiras que se misturam.
(SILVERMAN, HALL, BHABHA, BUTLER,
MAFFESOLI, ROLNIK).


As inserções possíveis da obra de Kapila
nesse universo contemporâneo em
ebulição; as alterações significativas do
conjunto que determinaram a materialidade
de sua temática e de seu formato; os
processos históricos, sociais e literários que
conduziram o seu argumento narrativo,
aqui, sempre colocado na posição de
enfrentamento dos seus personagens com a
cidade na qual estão imersos.
Essa temática da insatisfação e da desilusão
urbana, caminho percorrido por Kapila,
cujos elementos perfazem uma composição
característica do contemporâneo, se
consolidou lado a lado com uma narrativa
que apontava para uma literatura chamada
de resistência.

CONCLUSÕES


A elaboração ficcional que constitui esse período é, pois, desde o seu nascedouro,
formada pela singularidade do contraditório: o individual em oposição ao coletivo; o
engajamento e a contestação versus o distanciamento irônico, para desembocar, nos anos
de 1980, na “livre coexistência das diferenças, das contradições, não só entre as obras, mas
até no interior de uma mesma obra.” (BARBIERI, 2003, p.16).
Essa composição do urbano em sua obra garante a sua circunscrição e o diálogo com o
contemporâneo, posto que a sua narrativa nasce com os vínculos históricos do incremento
das cidades brasileiras e de seus traços, que influenciaram os tipos humanos encontrados
em seus espaços e as linhas que configuram as narrativas dos escritores desse período.
A fragmentação lírica, as divagações, o gosto pela prosa malcomportada, em certos
momentos, o desprezo pelo discurso linear, no qual as figuras femininas, a cidade, seus
paradoxos, misturas de elementos e vontades contraditórias, ocupam lugar de centralidade.

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