sábado, 8 de maio de 2010

SAPATO DE MEIA-NOIVA
“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
/e te pergunta, sem interesse pela resposta,
/pobre ou terrível, que lhe deres: trouxeste a chave?”
(Carlos Drummond de Andrade )
Para minha amiga do coração, Edna Maria Médici

Guardei meu sorriso no bolso. Quanto a você,
/fique aí parado, esperando por Deus...
Um corpo sem cabeça toma café comigo com rasgo
/na camiseta.
Este corpo quando não tinha onde dormir, pulava
/o muro do jardim de amigos e, ficava ali, na grama
/até ser acordado por um cabo de vassoura.
Camaleão, roubava as cores do sol.
Sabe-se que ruim ninguém é: apenas cruel.
Se eu sou uma camaleoa posso adotar qualquer
/sintoma: frio/morte/gelo/Antuérpia.
Para mim são as mesmas coisas. Sou dona de
/minha hipocondria.
E os estudos de meus remédios eu mesma colho
Em meus livros de psicotrópicos.
Só às vezes vezes viro uma jardineira triste.
Adoeço para neutralizar situações: “a terrível energia
/para a escrita faz bem.”
Não quero vê-lo nem vestido de ouro, indo para
/o céu com Jesus a esperá-lo.
Lá vem a lua, vazando o meu olho.
Sinto muito te dizer: você só tem uma hora para
/me achar no inferno.

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