sexta-feira, 28 de maio de 2010

FUI COMPRAR UMA ALMA EM PARIS
“Cada um tem o seu passado fechado em si, tal como
/um livro que se conhece de cor, livro de que os amigos
/apenas levam o título”
( Virginia Woolf )
Para a queridíssima Maíra Varela

Eu não seria escritora se não criasse lendas a meu respeito.
Uma vez tentei fazer em pé numa mata fechada.
Ele dirigia sorridente e mascava ping-pong. Estávamos na Inglaterra.
- Onde será o local do crime?
- Sei lá...qualquer um serve.
Fomos para um bosque cheio de carrapicho
- “Feche as portas do carro” – pedi.
Ele espantava os muruins e, depois, fumou um cigarro.
Garrei um garrancho e cisquei na areia para pôr
/nossos nomes que ao primeiro ventinho seriam apagados.
- “Você é louca” – ele disse.
“Eu só quero o seu corpo estilo guarda-roupa” – pensei.
Ele sofria da ”síndrome da privação cultural”.
No outro dia no fone:
“Eu te amo!” Solfejou.
- Vai sifu! Falei como falam os homens de cais de porto.
Não tenho tempo a perder, sou uma pensadora da indiferença.
Minha bolsa é uma calça.
Viajei para cheirar minhas flores de limão; melhor que ficar fazendo
/buraco na água.
Tomei de empréstimo de Camilo Castelo Branco
/um dinheiro e fui comprar uma alma em Paris.

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